Cabo Delgado: Dados da ONU apontam para 670 mil deslocados
24 de fevereiro de 2021Além das pessoas que fugiram das suas casas, na maioria crianças e jovens, muitas comunidades que os recebem estão sob pressão e estima-se que haja 950 mil pessoas "a enfrentar fome severa" nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula, sendo 242 mil crianças com desnutrição grave.
Os campos foram abandonados e os mercados destruídos, detalha o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
"As comunidades em áreas menos atingidas de Cabo Delgado, bem como nas províncias vizinhas de Niassa e Nampula, estão a demonstrar uma incrível solidariedade e generosidade com os deslocados que fogem da crise", acrescenta.
Mais de 90% estão hospedados "com familiares e amigos", situação que "está a colocar uma enorme pressão sobre os já escassos recursos das comunidades anfitriãs".
Por outro lado, "a insegurança aumentou o custo dos produtos básicos, em muitas partes de Cabo Delgado, especialmente em áreas particularmente afetadas pelo conflito, incluindo os distritos de Palma, Macomia e Mocímboa da Praia".
Aumento de casos de cólera
O OCHA destaca ainda o aumento de casos de cólera, especialmente entre pessoas deslocadas: 55 mortes e quase 5.000 casos estavam contabilizados até 14 de fevereiro de 2021, com o maior número no distrito de Metuge, onde têm funcionado vários campos de acomodação.
O conflito danificou ou destruiu um terço das instalações de saúde na província de Cabo Delgado, especialmente em Mocímboa da Praia, Macomia, Muidumbe e Quissanga.
Os ataques armados crescem desde 2017, alguns foram reivindicados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde há ano e meio, mas não há certezas sobre quem está por detrás da violência organizada que tem sido combatida pelas Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM).
Cabo Delgado é uma região rica em pedras preciosas, madeiras e local onde avança o maior investimento privado de África para extração de gás natural a partir de 2024.
Diversos relatórios internacionais indicam que a costa da província também faz parte de uma das rotas de tráfico de droga, sobretudo heroína.