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ONG alertam para risco de crianças "ao serviço da guerra"

23 de abril de 2021

Organizações admitem que, numa situação de conflito, pode haver crianças a ser treinadas pelos insurgentes. E apelam: mais do que nunca é preciso salvaguardar os direitos dos menores para que não se tornem terroristas.

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Foto: AFP/M. Longari

Organizações não-governamentais assumem que há crianças que podem estar a ser treinadas pelos insurgentes para praticar atos de terror na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

A associação Fala Minha Criança confirma o desaparecimento de um número considerável de menores durante as incursões dos insurgentes na região e admite que alguns deles podem ter integrado as fileiras dos terroristas.

Segundo Raquel Massinga, gestora de parcerias, comunicação e género da ONG, o que as comunidades reportam é que os terroristas, "quando capturam essas crianças, decapitam e extraem órgãos, usando-os como uma espécie de ritual, para aquelas crianças comerem essa carne humana, habituarem-se à situação" e não terem medo de matar.

"É uma espécie de rito de iniciação. Elas comem aquela carne e vão sentir-se preparadas para poderem atacar outros humanos sem nenhum remorso", refere a também socióloga.

Massinga não acredita que crianças estejam a ser usadas como espiões nos centros de acomodação, como dizem alguns relatos. Já nas comunidades que temem abandonar as suas casas, apesar dos ataques, a especialista admite que poderá haver menores em risco.

Porém, contrapõe: "Manipular uma criança é muito fácil, mas quando uma criança está numa situação de bem-estar, talvez possa não querer voltar ao mato."

A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado

Como impedir o recrutamento de crianças?

Rui Mutemba, coordenador de comunicação na organização Save the Children, refere que, "do mesmo jeito que os adultos são usados e convencidos a agirem contra outros seres humanos", as crianças podem ser "um instrumento ao serviço da guerra".

Isso é absolutamente condenável, acrescenta Mutemba, adiantando que já há um trabalho que está a ser feito em distritos não afetados pelo terrorismo para proteger as crianças vindas de zonas de conflito.

"Nós fazemos uma integração dessas crianças dentro de uma família de acolhimento e, dentro do possível em famílias de pessoas próximas, que tenham vivido na mesma zona, que conheçam os pais dessas crianças ou mesmo familiares. Mas evitamos que essas crianças fiquem sozinhas."

Para evitar que crianças se juntem às fileiras dos terroristas, Raquel Massinga, da Associação Fala Minha Criança, diz que todos os direitos devem ser salvaguardados: "É preciso que esta criança tenha acesso a escola, a hospital, que tenha todos os seus direitos respeitados."

De acordo com a socióloga, enquanto isso não acontecer, "facilmente" poderá haver crianças no futuro que podem ser instrumentalizadas pelos insurgentes.

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