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MigraçãoCabo Verde

Cruz Vermelha pede ajuda para migrantes naufragados

Djariatú Baldé
7 de março de 2024

A Cruz Vermelha de São Vicente, em Cabo Verde, alerta que o país precisa de mais ajuda para acompanhar os imigrantes que chegaram ao país esta semana em "condições debilitadas" .

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Foto de arquivo: Piroga que deu à costa junto à aldeia de Calhau, em São Vicente (março de 2024)
65 pessoas vinham a bordo desta piroga, que naufragou junto à costa cabo-verdiana, no domingo. Só 4 pessoas sobreviveramFoto: QUEILA FERNANDES/REUTERS

Cabo Verde tem resgatado pessoas que arriscam a vida tentando chegar à Europa em embarcações precárias. Em menos de uma semana, as autoridades cabo-verdianas resgataram migrantes que viajavam em duas embarcações. A primeira tinha cinco pessoas, uma delas acabou por falecer, segundo as autoridades. Um segundo barco que chegou à ilha de São Vicente na quarta-feira (06.03) transportava 11 pessoas.

Em entrevista à DW, a vice-presidente da Cruz Vermelha de São Vicente, Ana Batista, alerta que, caso apareçam mais embarcações, a organização não tem materiais suficientes de primeira utilidade para fazer face a estes casos.

DW África: Um barco artesanal deu ontem à costa na ilha de São Vicente, com 11 pessoas a bordo, suspeitando-se que tenha estado à deriva desde a Mauritânia, há quatro dias. Em que condições se encontram estas pessoas neste momento?

Ana Batista (AB): No domingo, nós fomos acionados para dar assistência a cinco pessoas. Foram enviados para o Hospital Batista de Sousa e, à tarde, acabou por falecer uma. Os quatro ficaram no hospital durante três dias e depois receberam alta e foram encaminhados para o centro de estágio, onde a Câmara Municipal de São Vicente aloja jogadores. Agora temos 15 pessoas ali, porque ontem acabaram por aparecer mais onze pessoas numa piroga. 

Aparentemente, todos estão bem, exceto um adolescente de 16 anos. Mas os quatro primeiros ainda não estão recuperados, porque passaram mais de 40 dias no mar e chegaram bastante desidratados. Os outros onze estavam apenas há três dias no mar.

Como vivem os imigrantes africanos em Cabo Verde?

DW África: Este foi o segundo barco que chegou à ilha desde domingo. A população tem ajudado?

AB: Algum pessoal de boa caridade nos ofereceu roupas. Está a ajudar naquilo que é possível. Sabemos que o destino dessas pessoas não era Cabo Verde, mas acabaram por vir parar aqui.

DW África: Alguns ativistas dizem que o país não está preparado para receber esses migrantes. O Governo cabo-verdiano também já solicitou apoio à Organização Internacional para as Migrações (OIM) para acompanhar o caso e os náufragos. De que ajuda precisam neste momento?

AB: Nós não estamos totalmente preparados. Se aparecerem mais embarcações, precisamos de materiais e nós, na Cruz Vermelha, não temos neste momento muito materiais de primeira utilidade disponíveis para essas causas.

Estamos com dificuldades de refeições, de vestuário, e como é que vamos pagar aos enfermeiros que deixamos aqui? Estamos com muita dificuldade, ficamos aqui a comunicar uns aos outros para saber onde podemos agir. Há também uma associação senegalesa que está a nos ajudar.

DW África: Como explica estes eventos recorrentes em Cabo Verde de embarcações que ficam à deriva com pessoas que arriscam a vida tentando chegar a Europa?

AB: Eles conta-nos que compram a piroga para ir para outro país - por exemplo, para Espanha - porque no país deles, alguns são do Mali, Senegal e Mauritânia, há guerra e fome. Então, vão por outro lugar à procura de melhores condições. Mas esse plano acaba por dar errado e perdem o rumo. Por exemplo, na primeira piroga havia 65 pessoas, mas só conseguiram sobreviver quatro desses 65.