Cabo Verde com "tolerância zero" na resposta à Covid-19
7 de setembro de 2020Segundo o chefe do Governo de Cabo Verde, de "uma forma geral" a população está a levar a sério as medidas de prevenção à transmissão da pandemia, apesar dos mais de quatro mil casos de Covid-19 já diagnosticados em quase seis meses, "mas basta que uma percentagem minoritária não leve a sério para haver problemas de propagação".
"Uma minoria pode contagiar muita gente se tiver comportamentos irresponsáveis. Medidas de prevenção e de fiscalização têm sido permanentes", afirmou esta segunda-feira (07.09) Ulisses Correia e Silva, em entrevista à agência de notícias Lusa.
Pandemia não ameaça eleições autárquicas
O primeiro-ministro cabo-verdiano afirmou que a realização das eleições autárquicas no próximo mês não está em causa com a pandemia. "Serão realizadas com as devidas precauções. Por outro lado, não é previsível que a epidemia se agrave ao ponto de ficar descontrolada. Antes pelo contrário", afirmou Ulisses Correia e Silva.
O chefe do Governo acrescentou que "normas sanitárias específicas" serão emitidas pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), "com o suporte" da Direção Nacional de Saúde, "para as ações de campanha eleitoral e da organização do processo até ao dia da votação". "Não estão em causa. Têm data marcada e serão realizadas", enfatizou.
Segundo uma deliberação aprovada por maioria no plenário da CNE, CNE de Cabo Verde e a Direção Nacional de Saúde já começaram a trabalhar num plano de contingência eleitoral para as eleições autárquicas de 25 de outubro, mas o direito de voto antecipado para os doentes com Covid-19 em isolamento está garantido.
Segundo o calendário eleitoral para as Eleições Gerais dos Titulares dos Órgãos Municipais de 25 de outubro, definido pela CNE, os partidos políticos, coligações e grupos de cidadãos podem começar a campanha eleitoral em 8 de outubro, no 17.º dia anterior ao designado para as eleições.
"Pela própria natureza do processo eleitoral, alguns atos inseridos nesse processo são suscetíveis de gerar aglomerações de pessoas", acrescenta-se na deliberação, reconhecendo que "não é possível prever qual será a situação epidemiológica do país na data marcada para a realização das eleições".
Este ano, devido à pandemia do novo coronavírus, a campanha para as eleições autárquicas vai decorrer sem ações porta a porta ou apertos de mãos. A campanha eleitoral para as autárquicas decorre até às 24:00 do dia 23 de outubro.
Máscara vai ser obrigatória na via pública
Na mesma entrevista, o chefe do Governo acrescentou que no próximo mês passará a ser obrigatório o uso de máscara na via pública em Cabo Verde, conforme legislação que está em preparação para o Governo levar ao Parlamento. Assumiu, por isso, que essa medida, preventiva à transmissão da doença, é para avançar: "Sim. Em outubro, com a retoma da atividade parlamentar. Estamos a criar as condições para tal".
Cabo Verde regista um acumulado de 4.330 casos de Covid-19 diagnosticados desde 19 de março, com 42 mortes associados à doença. Desde sexta-feira que a ilha do Fogo se juntou às de Santiago e do Sal na aplicação do estado de calamidade, com medidas restritivas ao funcionamento, por exemplo, de estabelecimentos comerciais, para conter a transmissão da doença.
"Nessas ilhas, a fiscalização tem sido forte e vai ser reforçada para garantir o cumprimento das normas sanitárias. Estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e outros serviços ao público são encerrados e só poderão ser reabertos se cumprirem a conformidade com as normas sanitárias", recordou.
"Tem havido encerramentos de estabelecimentos e detenção de pessoas, vamos ser mais implacáveis: distinguir com selo de qualidade (safe & clean) aqueles que cumprem e penalizar com tolerância zero os incumpridores", acrescentou.
De acordo com a avaliação semanal do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), divulgada no início de setembro, Cabo Verde é o segundo país do continente mais afetado, proporcionalmente, por casos de Covid-19, apenas atrás da África do Sul, ao registar 647 casos da doença por cada 100 mil habitantes.
Contudo, Ulisses Correia e Silva, recordou que Cabo Verde é também o país africano "que mais testes realiza proporcionalmente à população". "Mais de 50 mil testes PCR realizados e outros tantos testes rápidos. E esse número vai crescer por causa da obrigatoriedade de realização de testes nas viagens marítimas e áreas. Para além disso, a massificação de testes faz parte da estratégia de despistagem para o isolamento dos infetados", justificou o primeiro-ministro.