Camarões: Situação dos refugiados nigerianos preocupante
17 de julho de 2017É no Centro de Saúde Católico de Atta, nos Camarões, que funcionários da Cruz Vermelha local cuidam da saúde física e psicológica de centenas de refugiados que percorreram, a pé, grandes distâncias, para fugir do conflito que se vive no estado de Taraba, na Nigéria. Cansados e com fome, tentam salvar não só a sua vida, como também a de dezenas de cabeças de gado.
"O povo Mambila queria eliminar a geração Fulani em todo o planalto de Jos. Queriam matá-los a todos e ao seu gado", diz Bello Dewa Oumar, um refugiado de 53 anos.
Oumar fugiu da cidade nigeriana de Mbanga, o único local que diz ser seguro. "Eu escapei por pouco. A maioria destas milícias está a perseguir todos os Fulanis que atravessam a fronteira para os Camarões", desabafa, relembrando que teve de "seguir pelo meio da vegetação, por estradas estreitas que nunca imaginei ter de atravessar na minha vida".
Material médico escasseia
A massa de refugiados é constituída, sobretudo, por mulheres e crianças. Inicialmente, no Centro de Saúde católico, os funcionários trataram os refugiados com o material que tinham. Mas agora este escasseia e Jean Marie Kou, oficial médico, teme que não consigam dar resposta ao problema. "Começamos por tratar deles com aquilo que tínhamos no centro, uma vez que estes pacientes não têm nada. Demos o nosso melhor, mas estamos a ficar sem material", explica.
O médico teme que, caso o Estado nigeriano não intervenha, deixem de conseguir tratar da população local. "Se o Estado não nos deixar reabastecer a medicação ou não pagar as faturas médicas dos refugiados, vamos ter problemas sérios e não vamos poder tratar da nossa população", afirma.
Governo preocupado com a prevenção
Para além dos mais de sete mil refugiados, o governo camaronês estima que tenham atravessado a fronteira mais de duas mil cabeças de gado. As portas não são fechadas a nenhum deles; os refugiados entram no país, enquanto o seu gado é mantido em lugar seguro e se garante que não há o risco de contaminação da população local.
"Demos instruções para que recebam os refugiados por razões humanitárias", afirma Justin Mouchili, oficial sénior do Governo dos Camarões, que está preocupado com a saúde dos refugiados. "Reparei que as crianças estão bastante vulneráveis e pedi ao pessoal médico que as vacinasse contra o pólio e tratasse as suas doenças", explica.
Para além da preocupação com a saúde de quem procura abrigo no país, Mouchili procura prevenir o contágio do gado local pelos animais trazidos pelas populações em fuga. "Dei instruções ao meu pessoal para que se certificasse de que todoas as cabeças de gado estão vacinadas, para que não contaminem as restantes", afirma, acrescentando que "cerca de 15% das vacas" que entraram no país estão "traumatizadas ou feridas".
O estado de Taraba na Nigéria tem mais de 80 grupos étnicos, pertencentes às duas maiores religiões do globo, a islâmica e a cristã. Os conflitos étnico-religiosos são frequentes, e caracterizam-se por genocídios, mutilações ou matanças.
Só no último mês, os meios de comunicação social nigerianos reportaram a invasão de várias aldeias Fulani por milícias que deixaram um rasto de angústia e destruição. O governo da Nigéria afirma que estes ataques nada têm a ver com conflitos religiosos, mas sim com tensões entre os agricultores e criadores de gado do território.