Armando Guebuza reeleito líder da FRELIMO
26 de setembro de 2012
O X Congresso da FRELIMO, que decorre na cidade nortenha de Pemba (província de Cabo Delgado), reconduziu esta quarta feira (26.09) o presidente moçambicano Armando Guebuza ao cargo de presidente do partido por mais cinco anos.
Guebuza era o único candidato à liderança da FRELIMO e recebeu 1.835 votos (98,7%) a favor, 23 em branco e nenhum contra.
A reeleição de Guebuza aconteceu um dia antes da eleição do Comité Central da FRELIMO, órgão que define quem será o próximo candidato do partido à presidência da República, em 2014. Guebuza, que cumpre atualmente o segundo e último mandato permitido pela Constituição, não pode ser reeleito. Mas seu envolvimento com o crescimento económico moçambicano coloca a questão da continuidade sob os holofotes da política do país.
Por isso, observadores acreditam que a eleição do comité central da FRELIMO, esta quinta-feira (27.09), é crucial para definir a força de diversos grupos no interior do partido (clique aqui para saber mais).
Fim da transmissão
Na segunda-feira, Jorge Rebelo, um veterano da FRELIMO associado à ala ortodoxa, quebrou o tom de unanimidade que vinha exultando os feitos do partido durante o Congresso.
Rebelo, naquela que foi considerada uma das mais fortes críticas contra dirigentes do partido, segundo a agência noticiosa LUSA, denunciou a divisão entre "moçambicanos genuínos" e "não genuínos" que existiria no interior da FRELIMO. Rebelo é de origem goesa e participou na luta de libertação nacional contra Portugal nos anos 1970.
Ainda segundo a LUSA, a intervenção de Rebelo provocou algum nervosismo no aparelho partidário. Segundo alguns jornais citados pela agência, a FRELIMO mandou parar a transmissão em direto do Congresso, feita por canais públicos de rádio e de televisão.
Depois, de acordo com a agência, os jornalistas receberam indicações de que os debates deixavam de poder ser cobertas. Na terça-feira (25), as restrições foram levantadas. Nesta quarta-feira (26.09), a comunicação social retransmitiu na íntegra a intervenção de Rebelo, que tinha, segundo a LUSA, manifestado indignação contra notícias recentes de que a FRELIMO endureceu a sua posição nos meios de comunicação públicos, com mexidas em responsáveis e desagrado em relação a alguns comentadores.
Abstenção nas eleições
Os membros da FRELIMO mostraram-se também preocupados com altos índices de abstenções nos pleitos eleitorais que se verificam no país.
Os delegados do partido governista dizem ser incompreensível não obter bons resultados. Por exemplo, num município onde existem 500 mil membros, no dia da votação nem metade destes vai às urnas.
Jorge Rebelo disse também que a FRELIMO esteve mergulhada numa crise nas eleições de 1999 em que Joaquim Chissano obteve 52% dos votos contra 48%de Afonso Dlhakama, líder da RENAMO, ex-movimento rebelde que hoje é o maior partido da oposição do país. Para Rebelo, "se alguns de nós tivéssemos ficado em casa a dormir em vez de ir votar, podiamos ter hoje Dhlakama como presidente de Moçambique e seria o maior desastre na nossa história".
Durante o debate sobre o Relatório do Comité Central, Rebelo disse que a saída para a crise, na altura, foi a indicação de Armando Guebuza como candidato da FRELIMO – que resgatou as bases do partido.
E nesta quarta feira, o antigo presidente da República, Joaquim Chissano, disse que o papel da célula do partido nos diferentes pontos do país é crucial. Nas eleições de 1999, por exemplo, a FRELIMO teve uma diferença de apenas 4% com a concorrência, o que agitou aquela formação política.
"Porque não sair da célula todos juntos, como viemos aqui para o Congresso, em grupo e sabermos que estamos todos completos, quando vamos votar?", interrogou Chissano, sugerindo que os membros sejam liderados "pelo responsável da célula para irmos votar. Para quando voltarmos sermos capazes de fazer um balanço e dizermos: sim senhor, a nossa célula votou. E se alguém não foi lá votar, vamos saber, ou se estava doente ou porque estava impossibilitado por outras formas justificáveis", afirmou.
Subornos de militantes da FRELIMO
Francisco Gune, outro membro da FRELIMO criticou alguns colegas seus que entram em esquemas de subornos aos militantes para conseguirem ser eleitos para alguns cargos do governo. Para Gune, são "camaradas que não têm visão. Porque estão na direção do partido? Na direção da governação? E depois, nas eleições internas do partido tem que acabar o problema de comprar os militantes para ser eleito. O melhor quadro é aquele eleito por vontade do militante", discursou.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)/Renate Krieger/LUSA
Edição: António Rocha