Candidatos à liderança da UNITA com visões diferentes
3 de dezembro de 2015O maior partido da oposição angolana, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), iniciou esta quinta-feira (03.12) o seu XII congresso ordinário, que servirá para escolher o líder e candidato às eleições de 2017.
A eleição do presidente da UNITA, à qual concorrem os deputados Paulo Lukamba 'Gato', Abílio Kamalata Numa e Isaías N'gola Samakuva - este candidato à reeleição -, decorrerá no sábado (05.12).
Nas últimas semanas, cada um procurou convencer o eleitorado com o seu programa individual.
Gato de olho na dinâmica social
O candidato Lukamba Gato tem como proposta tornar a UNITA num partido moderno, capaz de atrair a simpatia dos angolanos, sobretudo aqueles que vivem nas zonas urbanas. São, na sua opinião, áreas, onde a UNITA tem tido dificuldades de penetrar.
Como estratégias para conquistar apoios este candidato preconiza : "Precisamos de entender a nova dinâmica, a sociedade muda. Saímos do sistema de partido único e estamos no multi; saímos da guerra e estamos na paz; saímos de uma economia centralizada para uma economia de mercado. Então é necessário fazer estudos aprofundados, estudos do ponto de vista sociológico, do ponto de vista político, de forma a que a UNITA possa capacitar-se a entrar em áreas onde, por razões de história e de tradição, temos tido menos sucesso."
Otimista, Gato tem ainda como proposta limitar para quatro anos o mandato do presidente do partido, podendo ser eleito apenas para dois mandatos consecutivos. Trata-se, diz, de evitar vícios e a penetração da corrupção na hierarquia do partido: "Somos a favor de uma limitação de mandatos, porque um exercício prolongado do poder cria necessariamente vícios, mesmo se o dirigente não quiser, mesmo se resistir: cria vícios inerentes ao exercício do poder."
Por outro lado, este candidado defende que "é preciso que se limitem os mandatos, não só para se evitarem esses riscos, o poder corrompe. Mas também para enviar mensagens fortes às gerações mais novas, de que eles também têm oportunidade."
A certeza da mudança em 2017
Outro candidato ao cargo de presidente da UNITA é Kamalata Numa. O político tem como meta prioritária combater a fraude eleitoral que preconiza para as eleições gerais.
"A nossa candidatura tem uma leitura do contexto político nacional, que olha para Angola como um país que, a partir de 2017 a 2022, vai viver um momento de transição de um poder que esteve durante muitos anos nas mãos do engenheiro José Eduardo dos Santos, para uma outra entidade, que poderá vir de qualquer uma das forças políticas presentes em Angola."
Para Kamalata Numa, a UNITA tem perdido muitas oportunidades de conquistar o poder político. Por isso considera ser este o momento crucial para os delegados escolherem um líder apto, que possa cumprir este desígnio, sob pena da UNITA ser ultrapassada.
"Quando se perde uma oportunidade, há um tempo imenso que se leva para se recuperar. E há outras forças políticas a surgirem, e esses benefícios muitas vezes nos poderão ser retirados e nós seremos os responsabilizados."
Samakuva há 12 anos na liderança
A DW África tentou, sem sucesso, falar com o presidente cessante da UNITA, Isaías Samakuva. Do programa do também candidato a um novo mandato consta a continuidade, que se consubstancia na coesão do partido, assim como a captação de novos militantes. Samakuva manifesta a convicção de que, sob a sua alçada, a UNITA formará o Governo em 2017.
Samakuva afirmou recentemente que o seu partido está em condições de governar Angola e responder às "necessidades de mudança" no país. Para Samakuva as três candidaturas, no momento atual, que é de crítica à "intolerância política" em Angola, representam a "vitalidade e abertura" da UNITA, que pretende alargar à restante oposição e sociedade civil.
Uma campanha eleitoral à liderança do maior partido da oposição angolana, decorreu durante o mês de novembro, após aprovação das candidaturas. A presidência da UNITA está entregue, até finais de dezembro, ao deputado Ernesto Joaquim Mulato.Nos trabalhos deste congresso ordinário participam 1.150 delegados. Para além da eleição do presidente do partido durante o dia de sábado - que será candidato do partido nas eleições gerais (legislativas e presidenciais) de agosto de 2017 - e dos restantes órgãos dirigentes, este congresso vai ainda discutir o relatório da comissão política do período 2011-2015.
Os delegados farão ainda a reavaliação da linha político-ideológica do partido e a revisão dos estatutos para além de aprovar um programa para o período 2015-2019.