Caos na Líbia cinco anos após morte de Kadhafi
20 de outubro de 2016O que aconteceu à Líbia após a morte de Mouammar Kadhafi? A intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) seguiu um rumo completamente diferente ao esperado, particularmente por Paris, Washington e Londres.
"Como se sabe, a intervenção militar foi bem sucedida", diz o geógrafo alemão Andreas Dittmann em entrevista à DW África. Mas "a reconstrução da Líbia não se iniciou, ou foi até mesmo deixada de lado, ao ponto de não ser mais possível concretizá-la."
A esperança de que, com a queda de Kadhafi, se desenvolvesse uma sociedade democrática, livre e aberta não se concretizou. Pelo contrário: A Líbia está mergulhada no caos e na violência. O Governo não funciona e há mais de uma centena de grupos armados a disputar o poder. O tráfico de drogas, armas e pessoas floresce. Nos últimos anos, o país tornou-se uma das principais rotas dos refugiados que rumam à Europa.
As condições de vida pioraram drasticamente na Líbia após a queda de Kadhafi, afirma Mattia Toaldo, investigador no Conselho Europeu de Relações Exteriores.
"Falta energia elétrica com frequência. Na capital, Tripoli, houve 109 raptos em setembro. Há pouco dinheiro a circular e as pessoas passam grande parte do tempo nos balcões dos bancos, apesar de algumas delas terem muito pouco", afirma. Em resumo, a vida piorou e a segurança e a situação económica também.
Demasiadas expetativas?
Christian Much foi, até setembro, o embaixador da Alemanha na Líbia, ocupando o cargo durante três anos. Segundo o diplomata, em 2011, tantos os líbios como a comunidade internacional sobrestimaram o que se podia fazer na Líbia. Mas os obstáculos depressa se tornaram evidentes - e os interesses locais.
"Um dado importante é que, em 2011, não foi criado de imediato um exército nacional, e as milícias aumentaram de importância – e, através disso, a ideologia de estruturas locais."
A influência estrangeira acirrou o conflito interno: O Egito, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita apoiaram grupos armados no oeste do país. O Qatar e a Turquia apoiaram, sobretudo, milícias no leste. Segundo Mattia Toaldo, estas ajudas externas foram uma das principais causas para o resvalar da situação na Líbia após a morte de Kadhafi.