Capacitação política quer incentivar candidaturas femininas na Guiné-Bissau
7 de agosto de 2012Apenas 10% do parlamento na Guiné-Bissau são ocupados por mulheres. O índice coloca o país na posição de número 112 no ranking de participação feminina da União Interparlamentária (IPU, em inglês), criada nos Estados Unidos em 1889.
A igualdade de gênero e a autonomia das mulheres é o terceiro item na lista dos chamados oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas (ONU). E aumentar a participação política feminina é um dos desafios. Em Bissau, 33 mulheres estão frequentando o curso de formação promovido pela ONU para prepará-las a entrar em espaços de tomada de decisão.
Líderes comunitárias, jornalistas e representantes da sociedade civil se encontram duas vezes por semana para aprender aspectos dos processos eleitorais e da política local. O curso possui quatro módulos. “O módulo que concluímos nesta segunda semana foi sobre a prática do processo eleitoral, desde a geografia administrativa, os ciclos eleitorais, as mesas de voto, o que a lei prevê, até como chegar à presidência da comissão nacional de eleições”, explica uma das instrutoras, a escritora e ex-ministra da Educação na Guiné-Bissau, Odete Semedo.
“Queremos que elas tenham consciência de que o trabalho que elas já fazem em suas organizações ou na comunidade deve ser levado a espaços onde as decisões são tomadas, pois se não tivermos mulheres suficientes no parlamento, não poderemos mudar as leis naquilo que precisamos”, ressalta Semedo. “Ninguém vai fazer isso por nós”.
Ainda segundo a ex-ministra, as mulheres constituem maioria na população guineense e também na composição dos partidos, mas apenas aparecem em funções desvalorizadas.
Mais visibilidade
Por isso, outro desafio é tirar a mulher da invisibilidade. “Na base de organizações e partidos, elas trabalham para a comunidade, mas quando se trata de cargos de gerência e planejamento, você só encontra homens”, observa Semedo. “E como é que a mulher pode chegar a se candidatar à presidência de uma associação se ela não participa nem das comissões mais centrais, nos processos em que as decisões são tomadas?”, questiona.
Outra instrutora no curso de capacitação é a conselheira de gênero no gabinete integrado da ONU para a consolidação da paz na Guiné-Bissau (Uniogbis), Sara Negrão. Para ela, a formação ganha especial importância neste atual momento de incertezas no país, desde o golpe militar em abril deste ano. “Como em qualquer outro país pós-conflito ou com alguma instabilidade política, esta é uma oportunidade de juntar essas mulheres em torno de objetivos comuns à democracia e na luta pelos seus próprios direitos”, avalia.
“Por outro lado, elas também contribuem com outras perspectivas, com um olhar mais sensível aos problemas sociais e à questão dos direitos humanos”, reforça Negrão. As aulas terminam em meados deste mês. Além das teorias, há ainda exercícios práticos para falar em público e debates. A ideia é criar um núcleo de mulheres formadoras que possam multiplicar ações semelhantes em outras regiões da Guiné-Bissau.
Autora: Patrícia Álvares
Edição: Renate Krieger