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Carlos Gomes Júnior lança alerta à comunidade internacional antes das eleições

João Carlos (Lisboa)3 de fevereiro de 2014

O ex-primeiro ministro da Guiné-Bissau exorta a comunidade internacional a respeitar, antes da ida às urnas, a resolução da ONU que impõe sanções contra os golpistas de 2012 e políticos envolvidos no tráfico de drogas.

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Carlos Gomes Júnior, ex-primeiro ministro da Guiné-BissauFoto: DW/Joao Carlos

As eleições gerais marcadas para 16 de março deste ano são de extrema importância para os guineenses, considera Carlos Gomes Júnior, o deposto primeiro-ministro da Guiné-Bissau.

O exilado líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), a maior força política no Parlamento, receia um novo adiamento da votação, que visa pôr fim à instabilidade no país, ou então uma taxa muito elevada de abstenção. "Nós temos receio que nestas eleições possa haver um nível de abstenção muito elevado e isso não seria desejável. Dada a responsabilidade que todos temos desejamos que as eleições sejam muito inclusivas onde todos os guineenses votassem em mesmo pé de igualdade", declarou.

E por considerar que as eleições não serão inclusivas, o primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril de 2012 deslocou-se recentemente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, para expor a preocupação ao secretário-geral, Ban Ki-moon.

"Não pude estar com o secretário-geral, mas estive com o secretário-geral adjunto e dissemos que há condições prévias que devem ser analisadas antes das eleições, condições essas em que a nossa população não se pode manifestar, a imprensa não é livre, os políticos são espancados e mortos", contou Carlos Gomes Júnior aos microfones da DW África. "Como podemos fazer eleições e falar em Estado de direito e democrático numa situação como essa? Tenho dúvidas", acrescentou.

"Cadogo" apela à responsabilidade dos guineenses

Guinea-Bissau Putschversuch am 21.10.2012
António Indjai, chefe das Forças Armadas guineenses, supostamente ligado ao golpe de Estado de 12 de abril de 2012Foto: DW

Carlos Gomes Júnior, também conhecido por “Cadogo”, critica os atuais dirigentes de transição face à situação caótica em que o país vive.

Ele lembra que, durante o seu mandato, depois do perdão da dívida externa, foi delineada uma estratégia de desenvolvimento, visando cumprir os desafios do milénio e lançar um novo ciclo para o futuro da Guiné-Bissau: "Estávamos a preparar o documento para discutir com o nosso parceiro de desenvolvimento em Genebra e tudo foi por água abaixo com o que aconteceu", recorda.

“Cadogo”, que continua disposto a servir a Guiné-Bissau, apela a cada um dos guineenses a assumir a sua responsabilidade para que o país encontre o seu rumo.

Também na qualidade de presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior não pôde deslocar-se a Bissau, por razões de segurança, para participar no oitavo congresso do seu partido, começou este domingo (02.02) em Cacheu, no norte do país.

Semanas antes, um grupo de militares armados queria invadir a delegação da ONU na localidade de Buba, no extremo sul do país, em busca do ex-primeiro ministro, alegadamente por terem recebido informações de que Gomes Júnior estaria escondido na referida instalação.

"Felizmente eu estava no México numa conferência internacional. Esse episódio é lamentável, quando não se respeita as instalações de um organismo internacional como a ONU é grave", explica Carlos Gomes Júnior.

O papel que a ONU deve assumir

Wahlen Guinea Bissau 2012
"Cadogo" concorreu nas últimas eleições presidenciais de 2012, mas o escrutínio ficou sem efeito por causa do golpeFoto: AP

"Cadogo" exorta a comunidade internacional a prestar maior atenção à questão de segurança. "Se os militares também têm a prorrogativa de ameaçar, a comunidade internacional tem de se sentar e analisar com toda a frieza. Se a comunidade internacional diz que vai comparticipar com financiamento para que haja uma eleição livre, justa e transparente e inclusiva. Agora como podemos dizer que uns podem regressar e outros não podem regressar. Porquê?", questiona o primeiro-ministro deposto.

Com mais este incidente, estará a Guiné-Bissau confrontada com a eternização do poder dos militares? Carlos Gomes Júnior respondeu: "As sanções têm de ser aplicadas a civis que instigaram os militares a fazerem o golpe de Estado, que estejam implicados ou incidiciados no tráfico de drogas e crime internacional, porque esses são o foco de toda a instabilidade na Guiné-Bissau. Portanto, a sanção tem de ser muito mais ampla e antes das eleições."

Com estas palavras o ex-primeiro ministro lembra que a resolução 20/48 das Nações Unidas deve ser aplicada não só aos militares envolvidos no golpe de Estado de 12 de abril.

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