Cerca de 30% dos africanos sofrem de falta de vitamina D
12 de julho de 2020Na Europa, cerca de 40% dos adultos têm falta de vitamina D no organismo. Isto deve-se, principalmente, ao clima mais frio e à pouca luz solar na maior parte do ano.
Para produzir a vitamina D, o corpo precisa da radiação UV na pele. Apenas entre 10% e 20% da necessidade que o corpo tem da vitamina podem ser adquiridos por meio dos alimentos.
Entretanto, nos países onde o sol brilha com mais frequência também regista-se baixa quantidade de vitamina D na população. Este é o caso do continente africano, segundo um estudo divulgado pela prestigiada revista científica "The Lancet".
Os pesquisadores quenianos analisaram amostras de 21.500 indivíduos de 23 países africanos e constataram que um a cada três pacientes sofre de deficiência grave de vitamina D, uma proporção comparada à vista na Europa.
Os autores do estudo liderados pelo cientista queniano Reagan Mogire acreditam que a falta de vitamina D, mesmo em países ensolarados, deve-se à urbanização e ao estilo de vida das pessoas - por exemplo, aquelas que trabalham constantemente em ambientes fechados.
O estudo mostra ainda que o déficit de vitamina D é muito menor nas regiões rurais, onde a vida ocorre principalmente ao ar livre.
Consequências para a saúde
Um mau suprimento de vitamina D pode ter consequências muito diferentes. A deficiência de vitamina D também tem sido associada a doenças cardiovasculares, maior risco de infeções, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.
A deficiência grave ocorre quando a quantidade de vitamina por litro de sangue é inferior a 12 nanogramas por mililitro. Atualmente, supõe-se que precisamos de 20 a 30 nanogramas de vitamina D por mililitro de sangue.
O déficit grave leva a deformações ósseas graves e dolorosas, como o raquitismo em bebês e crianças - retardo no crescimento devido à deficiência na mineralização da cartilagem - e a osteomalácia - amolecimento dos ossos - em adultos.
Falta de vitamina D e a Covid-19
Os cientistas quenianos baseiam as suas pesquisas na importância da vitamina D para o sistema imunológico. "África sofre de doenças infeciosas e não transmissíveis. Por exemplo, o continente tem um dos maiores índices de raquitismo do mundo", escreveu o líder do estudo, Reagan Mogire, para o site The Conversation.
Por esse motivo, Mogire e seus colegas estão a apelar às autoridades de saúde do continente africano para que o combate à falta de vitamina D torne-se uma prioridade.
Uma análise da Universidade de Hohenheim, no sul da Alemanha, cria uma ligação entre a deficiência de vitamina D, certas doenças anteriores e um desenvolvimento grave da Covid-19.
"Existem inúmeras indicações de que várias doenças não transmissíveis, como pressão alta, diabetes, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica, estão associadas a baixos níveis plasmáticos de vitamina D. Essas comorbidades, juntamente com a frequentemente associada deficiência de vitamina D, aumenta o risco de eventos graves de Covid-19", diz o estudo.
"Se houver suspeita de infeção pelo novo coronavírus, a quantidade de vitamina D deve ser verificada e um possível déficit, sanado rapidamente", recomenda o artigo.
"Esta afirmação está completamente correta", diz Martin Fassnacht, chefe de Endocrinologia do Hospital Universitário de Würzburg, na Alemanha.
Entretanto, faz uma ponderação: "Estão em andamento estudos para determinar se a vitamina D ajuda na infeção pelo novo coronavírus, mas pessoalmente não acredito que seja um facto", disse o endocrinologista.
"Não quero descartar o facto de que existem realmente subgrupos de pessoas que se beneficiam de uma dose adicional de vitamina D", acrescentou.