Cheias: Treze anos depois, tragédia volta a Moçambique
6 de fevereiro de 2013No ano 2000, o sul de Moçambique registou cheias que mataram centenas de milhares de pessoas e destruíram diversas infra estruturas. Treze anos depois, a história repete-se. Na província de Gaza, a cidade de Chókwe ficou debaixo de água e a zona baixa de Xai Xai ficou parcialmente inundada. As infra estruturas daquelas duas cidades, e não só, voltaram a ser alvo da fúria das águas. É uma lição de treze anos para as autoridades moçambicanas que, agora, já estão a tomar medidas.
“Nós precisamos, no caso do rio Limpopo, de ter a barragem de Mapai. Precisamos completar o abração contra infiltrações na barragem de Massingir. Precisamos de pôr em condições a barragem de Macarretane". Foi o próprio presidente da República, Armando Guebuza, que recentemente anunciou o facto, adiantando que, com ou sem recursos, o país terá que reduzir o impacto das cheias.
“De facto, é continuar a trabalhar no sentido de encontrar recursos financeiros onde for possível", afirmou Guebuza. "Onde isso não se verificar, será preciso utilizar aqueles recursos que estão dentro de nós, para irmos reduzindo o impacto desta situação", explicou.
"Alterações climáticas podem explicar situação", diz especialista
Esta situação é, para Raquel Fernandes, bióloga no Centro Terra Viva, uma organização não governamental de defesa do meio ambiente, uma consequência das mudanças climáticas, embora se imponha uma avaliação de intensidade.
“Estamos a ter um impacto muito grande no ambiente e tem que haver uma resposta a isso", considera a especialista, adiantando, no entanto, que é necessário "ver a intensidade desses acontecimentos, porque as mudanças climáticas respondem dessa forma: mais agressivas e mais frequentes".
Em "treze anos", continua Raquel Fernandes, "qual é o histórico dessas ocorrências? Se realmente o intervalo ficar muito curto, já é uma evidência de que é uma resposta das mudanças climáticas.” Nos últimos treze anos houve vários encontros para debater a redução do impacto das cheias e das chuvas intensas, mas as mortes e as destruições continuam a ocorrer.
Evitar construção e habitação em zonas vulneráveis
Para o jornalista ambiental Lino Manuel, é preciso que a população seja retirada das zonas propensas às cheias. “Esta interação com o executivo já vem acontecendo desde sempre. Aliás, foi o próprio governo que encomendou estudos que mostram claramente quais são as zonas de potencial risco", lembra.
De agora em diante algo deve ser feito. O país é vulnerável a estas catástrofes e as autoridades são chamadas a adoptar medidas urgentes. Lino Manuel afirma que “existe um Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas que é um documento aprovado pelo governo e está a ser implementado". "Porém", explica, "a efetividade da implementação dos planos é que deixa a desejar". "Ainda temos populações que se fixaram nos lugares de alto risco de inundação. Por exemplo, refiro-me as populações que vivem nos vales", sublinha o jornalista.
O agro-economista Firmino Mucavele critica as autoridades por autorizarem a construção de habitações em zonas impróprias, que estão a reduzir os espaços verdes. “Estamos a dizimar e não só", afirma o especialista. "As reservas pantanosas que tínhamos que serviam para acolher as águas, hoje já estão a ser ocupadas por edifícios. Encontramos os bairros de Chamanculo, Hulene, Xipamanine, Polana Caniço estão todos a ser inundados", explica Mucavele.
Nos últimos dias, as províncias da Zambézia e de Nampula estão a ser fustigadas por intensas chuvas. O Zambezi poderá aumentar o caudal, inundando os distritos que se localizam ao longo do rio.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Maria João Pinto/Madalena Sampaio