Freddy: 250 mil pessoas precisam de ajuda em Quelimane
13 de março de 2023Mais de 250 mil pessoas foram afetadas pelo ciclone Freddy só na cidade de Quelimane, de acordo com as autoridades municipais. Até agora, foram contabilizados pelo menos dez mortos e centenas de feridos.
Várias infraestruturas na cidade ficaram danificadas ou foram destruídas. Quelimane ficou praticamente isolada, com o aeroporto e várias estradas encerradas. Houve cortes na distruibuição de eletricidade e o serviço de telecomunicações é precário. Além disso, diversas enfermarias ficaram sem tecto e os doentes tiveram de ser transferidos para outros locais.
Em entrevista à DW África, o presidente do município de Quelimane, Manuel de Araújo, descreve um cenário "desolador".
DW África: Qual é a situação neste momento, depois da passagem do ciclone Freddy?
Manuel de Araújo (MA): A situação é bastante crítica, porque nós tivemos um ciclone com um impacto um pouco acima das previsões. O nível de devastação foi muito grande, nós temos vários edifícios públicos e privados sem tecto, desabaram várias paredes e também temos algumas infraestruturas [danificadas], como o ginásio da escola Filipe Jacinto Nyusi, o ginásio da escola secundária Patrice Lumumba ou o tecto da Igreja dos Santos Anjos de Coalane.
E muito mais grave: várias enfermarias do Hospital Provincial de Quelimane - por exemplo, a enfermaria que trata das fístulas obstétricas, a enfermaria da pediatria, mas também a das urgências - perderam completamente o tecto. E neste momento, a água entra não só pelas paredes, como também pelo próprio tecto. É uma situação desoladora, temos doentes molhados, em camas e lençóis molhados, que tiveram de ser transferidos para outras enfermarias.
DW África: Quantas pessoas foram afetadas?
MA: Até este momento, podemos falar em 250 mil pessoas que precisam de apoio e que são direta ou indiretamente afetadas.
Temos cerca de 20 escolas que estão a receber pessoas necessitadas, porque as suas casas ou foram destruídas ou alagadas, ou então algumas das paredes caíram ou estão alagadas.
DW África: A cidade ou a província estão a receber apoio do Governo central? O que está a ser feito e o que é preciso fazer?
MA: Nós recebemos o ministro da Saúde, também recebemos a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, porque, como sabe, a cidade de Quelimane foi o epicentro desta crise.
O que conseguimos fazer, até agora, em termos de ajuda do Governo central, foi a distribuição - não em todos centros, mas apenas em alguns - de arroz e farinha. Ainda não foi feita qualquer distribuição de cobertores e de outros víveres que são necessários e indispensáveis.
Nós pedimos ao Governo central para que possamos fazer a distribuição de [ajuda] para evitar a propagação de doenças diarreicas, como por exemplo a cólera. Também temos que começar a tomar medidas preventivas no que se refere à deflagração da malária.
Portanto, estamos a fazer todos os esforços para melhorarmos a coordenação entre o nível municipal, o nível provincial e o nível nacional.
DW África: Quando começa a chegar esse apoio que necessitam?
MA: Esperamos que chegue a todo o momento. Mas queria aproveitar para agradecer ao setor privado, que tem estado connosco. O setor privado disponibilizou três camiões e estamos numa campanha para repor a transitabilidade no município de Quelimane, porque muitas estradas estão intransitáveis. Caíram coqueiros, caíram árvores que estão a impossibilitar a transitabilidade. Estamos a remover esses obstáculos, com a ajuda de jovens e mulheres e com este apoio em termos de meios de transporte.