Cólera alastra-se na Beira com 139 casos em 24 horas
28 de março de 2019O registo de 139 casos da doença infecciosa foi feito em várias unidades sanitárias da Beira, anunciou Ussein Isse, director nacional de saúde de Moçambique, numa conferência de imprensa na cidade da Beira. Desde as cheias do ciclone Idai, quadros de saúde e parceiros nacionais e internacionais lutam para evitar o surgimento da doença. A passagem do ciclone Idai deixou a cidade da Beira sem água potável. Há três dias, que o abastecimento de água nas torneiras e por camiões cisternas voltou a funcionar. Mas a população é apelada a não consumir água sem ferver, recomendando-se também a comprar água mineral ou usar produtos químicos ou filtros mecanicos para purificar a água.
Campanha de vacinação contra a cólera
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai promover uma campanha de vacinação contra a cólera no centro de Moçambique onde as autoridades já detetaram cerca de 2.500 casos de diarreias.
A campanha arranca na segunda-feira (01.04) e vai ser feita em nove centros de vacinação contra a cólera, cinco dos quais na cidade da Beira, dois no Dondo, outro em Búzi e outro ainda em Nhamatanda, distritos mais afetados pelas cheias na província de Sofala.
"Nós temos 900 mil vacinas a chegar ao país [no sábado] e isso vai fazer com que tenhamos, pelo menos, três doses para cada pessoa, mas é muito provável que nos próximos meses tenhamos de reforçar essas doses para evitar a propagação", afirmou em conferência de imprensa David Wichtwick, líder da equipa da OMS na cidade da Beira.
O líder da equipa da OMS admite que existam ainda muitas comunidades que precisam de assistência, considerando que é preciso tempo para chegar a todas as áreas afetadas pelo ciclone Idai. "Não estamos satisfeitos com o que foi possível fazer até agora, estamos conscientes de que precisamos de fazer mais e acreditamos que é possível chegar a mais lugares onde as pessoas precisam de ser assistidas", declarou.
O que é a cólera?
A cólera é uma infeção do intestino delgado causada por bactérias. Os sintomas mais evidentes são uma grande quantidade de diarreia aquosa com duração de alguns dias, como também vómitos e cãibras musculares. A manifestação de sintomas tem início entre duas horas e cinco dias após a infeção. A diarreia pode causar em poucas horas grave desidratação e distúrbio eletrolítico. Isto pode levar a que os olhos se afundem nas órbitas, à diminuição de elasticidade da pele e ao enrugamento das mãos e dos pés.
A doença transmite-se principalmente através da água e de alimentos contaminados com fezes humanas com presença das bactérias. Fatores de risco desta doença contagiosa também são saneamento insuficiente e escassez de água potável. A doença pode ser diagnosticada através da análise das fezes. Estão disponíveis testes rápidos com reagentes, mas a sua precisão é menor.
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi fez pelo menos 786 mortos e afetou 2,9 milhões de pessoas, segundo dados das agências das Nações Unidas. Moçambique foi o país mais afetado, registando até ao momento 468 mortos e 1.522 feridos, segundo as autoridades moçambicanas, que dão ainda conta de mais de 135 mil pessoas a viverem atualmente em centros de acolhimento, sobretudo na região da Beira.