Cidade da Beira luta contra mudanças climáticas
2 de novembro de 2015A Beira é quase toda contornada pelo Oceano Índico. É o mar que dá a esta cidade as suas características: praias longas e marginais largas. Há ainda um porto de transbordo, ponto de partida do corredor da Beira, através do qual passam muitas exportações e importações de e para o centro de Moçambique, Zimbabué e Malawi. Mas o Oceano também representa um perigo para a Beira. A maioria das habitações situa-se apenas ligeiramente acima do nível do mar e está sempre exposta a enchentes. As chuvas torrenciais são outro risco.
"Os estudos todos confirmam a Beira como a cidade mais vulnerável do país; é uma das cinco cidades mais vulneráveis em África", diz o edil Daviz Simango. "É uma cidade muito propícia a inundações, que trazem consigo doenças endémicas, sobretudo cólera e malária."
Simango ocupa o cargo de presidente da Câmara desde 2003. É também o líder do segundo maior partido da oposição, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e, nesta qualidade, um dos políticos mais influentes do país. Mas também Simango teve que assistir impotente às cheias que submergiram, durante semanas, grandes troços da cidade, após as chuvas de 2013. Os canais naturais de drenagem, como o rio Chiveve, estavam entupidos com lixo, pelo que as águas levaram muito tempo a escorrer.
Travar as águas
É precisamente para evitar que a história se repita que o banco estatal alemão de desenvolvimento, KfW, colocou à disposição da Beira 13 milhões de euros para um projeto de saneamento urbano. A autarquia participa com 2,8 milhões de euros nesta iniciativa que pretende prepará-la para as consequências do aquecimento global. Ao mesmo tempo, deverá ser criado um novo espaço de lazer no centro da cidade.
Os trabalhadores já limparam o rio do lixo e começaram a plantar árvores. Está ainda em curso a construção duma cancela na foz do Chiveve para impedir a enchente de entrar pelo rio dentro e chegar ao centro da cidade.
"Quando a enchente do mar e as chuvas torrenciais acontecem ao mesmo tempo, podemos fechar as cancelas. Deste modo, a enchente não chega à cidade e, simultaneamente, o rio pode receber a água da chuva", explica o responsável do KfW pelo projeto, Christof Griebenow. "Quando a maré vaza, as cancelas são abertas e a água da chuva escorre para o mar."
O projeto do KfW não prevê apenas a instalação de uma drenagem adequada. Está também planeada a criação de um parque no centro da cidade, em redor do rio Chiveve. Trata-se de um projeto particularmente importante para o centro da Beira com os seus bairros cinzentos: aqui o Chiveve é o único espaço verde.
Limpar o lixo
Os trabalhadores concluíram a limpeza dos últimos quatro quilómetros do rio. Mas, mais acima, no bairro informal do Goto, o Chiveve continua cheio de lixo e plástico. E os esgotos ao céu aberto que passam por entre as choupanas com telhados de chapa ondulada e as casas simples vão desaguar diretamente no rio.
A agência alemã do desenvolvimento GIZ juntou-se à autarquia para resolver esta situação. O lixo é recolhido com carrinhos de mão. Os habitantes poupam o caminho até aos depósitos na periferia do bairro. Futuramente, o esgoto será canalizado por tubos de cimento, para impedir que se misture com a água potável. A esperança é limitar também os surtos de doenças como a cólera.
Além disso, o grupo de teatro local "Kasamuka" tenta sensibilizar os habitantes do Goto e outros bairros para o problema do lixo. A campanha desenrola-se em português e nas duas línguas locais, ndau e sena.
Se tudo der certo - ou seja, se for possível manter o rio limpo de lixo e as cancelas funcionarem bem - de futuro, a Beira poderá estar melhor precavida do que até agora contra chuvas torrenciais, enchentes do mar e os desafios da mudança do clima.
O autor viajou para a Beira a convite do Ministério alemão para a Cooperação Técnica e do banco de desenvolvimento KfW.