Apreensão da sede da RENAMO mina confiança em Moçambique
7 de março de 2017Passaram cinco anos desde que, a 8 de março de 2012, a Polícia de Defesa e Segurança, com o apoio da Força de Intervenção Rápida e do Grupo de Operações Especiais tomaram de assalto a sede da delegação da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, em Nampula, norte do país.
A polícia terá usado gás lacrimogéneo contra os desmobilizados de guerra que se encontravam no interior da sede.
Desde essa altura, a sede da RENAMO em Nampula continua nas mãos das autoridades, que impedem o acesso dos membros do partido. A DW África conversou com António Muchanga, porta-voz da RENAMO, sobre o ponto de situação.
DW: O que aconteceu exatamente nessa madrugada de 8 de março de 2012, em Nampula?
António Muchanga (AM): As Forças de Defesa e Segurança atacaram a delegação política na Rua dos Sem Medo, na cidade de Nampula, no dia 8 de março [de 2012], logo de madrugada. O que culminou com o ferimento e detenção de muitos quadros da RENAMO, na sua maioria desmobilizados de guerra. Este terá sido o pomo de discórdia, que depois veio a criar a situação de conflito que tivemos de 2013 até 2014. Apesar dos entendimentos de 5 de Setembro [de 2016, data da ratificação do acordo entre o o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMo, Afonso Dhlakama], a delegação da RENAMO na cidade de Nampula continua até hoje nas mãos da polícia. A polícia ainda não devolveu a delegação aos seus legítimos donos. Portanto, temos a lamentar esta atitude, porque consideramos que o assunto está ultrapassado, nos termos do acordo, e as nossas instalações deviam ser-nos devolvidas.
DW África: Qual tem sido a reação das autoridades às diligências da RENAMO para reaver a delegação?
AM: Pura e simplesmente calam-se, não respondem nada.
DW África: Como é que a RENAMO em Nampula tem desenvolvido as suas atividades, neste período em que não tem tido a sua sede?
AM: Em Nampula, para além da delegação da cidade, a RENAMO tem uma delegação provincial e outras delegações nos bairros e vale-se dessas instalações. Mas para todos os efeitos, o empreendimento da RENAMO está a fazer falta.
DW África: Que consequências tem tido para a RENAMO a apreensão da sede?
AM: Isso mina cada vez mais a confiança que devia ser desenvolvida, tendo em conta que aquele que negoceia de boa fé deve devolver o que não lhe pertence. Neste caso, tendo em conta que a questão de Nampula se considera ultrapassada, porque faz parte do processo de 5 de setembro [de 2016], uma das melhores coisas que a polícia devia ter feito era devolver a delegação da RENAMO ao seu detentor.
DW África: Neste contexto de negociações entre o Governo e a RENAMO, em Maputo, acredita que esta situação da sede em Nampula poderá ser resolvida em breve?
AM: Acredito que será parte dos assuntos que teremos de tratar num futuro não distante. Primeiro, temos de consolidar a questão da cessação das hostilidades, para depois avançarmos para a devolução dos bens.
DW África: Atualmente os membros da RENAMO vivem num clima seguro?
AM: Não em todo o sítio, porque ainda na segunda-feira (06.03) dois membros da RENAMO em Manica, no distrito de Barué, foram atacados.
DW África: Quais foram as consequências?
AM: Ainda temos uma equipa que se deslocou ao terreno para tentar confirmar o que aconteceu. Mas fala-se da perda de vidas. Terá que se parar de uma vez por todas com esses atropelos, perseguições, raptos e assassinatos de membros da RENAMO.
DW África: Os membros da RENAMO já regressaram às suas atividades regulares?
AM: Havia essa tendência dos membros da RENAMO regressarem às suas atividades regulares, mas acredito que este incidente vai minar a confiança que as pessoas tinham. Por isso, tem de se trabalhar muito para se encontrar as pessoas que fizeram isso e para que sejam exemplarmente punidas. Se o Presidente Filipe Nyusi está efetivamente comprometido com a paz, ele terá de acionar esse mecanismo, para mostrar que é chefe do Governo e das Forças de Defesa e Segurança. Só poderá demonstrar isso, mandando prender e punir essas pessoas que contrariam a orientação que ele tem dado.