Cobalto: um metal raro, precioso e muito disputado na RDC
16 de setembro de 2018Está frio e chove nas montanhas de Masisi, na província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC). Com os pés descalços ou botas de borracha, dezenas de jovens ficam cobertos de água até os joelhos no leito do rio. Com pás e enxadas, pegam em pedras e pedregulhos e com a ajuda de peneiras procuram pequenos depósitos de cobalto, um metal raro utilizado para produzir aparelhos eletrónicos, especialmente telemóveis.
"Pegamos na areia que é libertada pela mina e lavamo-la. Depois trazemos o cobalto para o acampamento. Conseguimos cerca de dois quilos por dia. Isso dá-nos o equivalente a 10 dólares. É um bom trabalho para todos nós", conta um dos jovens mineiros, Richard Bisingimana. "O que é feito a partir dos metais e para onde são exportados, isso nós não sabemos… Muitas pessoas provavelmente ganham muito dinheiro com isto, mas esse não é o nosso caso", acrescenta.
Um dos maiores depósitos de cobalto de mundo
A República Democrática do Congo é um dos maiores depósitos de cobalto do mundo. Este metal raro é utilizado para produzir aparelhos de alta tecnologia. Durante muito tempo a matéria-prima foi usada como meio de financiamento para os grupos rebeldes.
Atualmente, as milícias continuam ativas junto à mina de Rubaya em Masisi. O motivo: os direitos de mineração da empresa SMB.
Esta firma pertence a uma influente família tutsi que ajudou a financiar dezenas de rebeliões no leste da RDC. O chefe da família, Eduard Mwangachuchu, é senador na capital, Kinshasa. No entanto, a maioria da população de Rubaya é do grupo étnico hutu. Em conflito com a mineradora, os mineiros formaram a milícia Nyatura.
"Todas estas colinas estão cheias de minerais. Antes, os agricultores plantavam milho e batatas. Mas então descobriu-se que existem minerais de excelente qualidade aqui. Os metais estão diretamente debaixo das casas de Rubaya", explica Chrispin Mvano, jornalista e candidato às eleições parlamentares.
"O presidente local deu os direitos da terra à população. Mas a lei congolesa contradiz-se. Embora a população tenha os direitos, os metais pertencem, de acordo com a lei das minas, a quem detém os direitos de mineração", frisa o jornalista.
Pacto com a população
Para resolver o conflito, a mineradora fechou um acordo com a população. Os agricultores formaram uma cooperativa e os oficiais da milícia largaram as armas e pegaram em pás.
A cooperativa vende os metais desde 2014 à SMB, que os exporta oficialmente. Toda a matéria-prima extraída é certificada. A mina está oficialmente classificada como zona verde, estando assim livre da rota do tráfico.
"A certificação teve um efeito positivo sobre nós porque encorajou o governo a reprimir o comércio ilegal de metais. A mineração é um bom trabalho, porque somos bem pagos. E se olharmos para os mineiros em Rubaya, percebemos que eles estão felizes porque podem financiar as vidas e as suas famílias", comenta Robert Senginga, presidente da cooperativa.
A mina é o maior empregador da região. Mais de 50.000 mineiros ganham a vida na exploração de cobalto.
Há um ano, a empresa SMB acusou a cooperativa de contrabando ilegal e fechou a mina, o que provocou a reativação das milícias.
Entretanto, a SMB e a população chegaram a acordo e a mina voltou a abrir em meados de agosto desde ano, com regras mais apertadas e maior controlo da exploração.