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Cultura

Coladera: projeto musical faz primeira turnê pela Alemanha

Nathale Martins
9 de março de 2018

Ritmo dançante, percussão diversificada e a língua portuguesa são as caraterísticas deste projeto musical que está a fazer uma turnê pela Europa.

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Band Coladera (DW/N. Martins)
Vitor Santana (esq.), Miroca Paris e João Pires a tocar em Cabo Verde Foto: privat/Coladera

"Podem dizer o que quiser, mas eu chamo isso de coquetel de ritmos, para mim, isso é o Coladera”, define Miroca Paris no palco do Barinton, em Colónia. O cabo-verdiano, que se consolidou no mercado musical ao tocar com Cesária Évora, integra a gravação do La Dôtu Lado (Lá do outro lado), segundo disco na trajetória do projeto iniciado pelos músicos João Pires e Vitor Santana. O trio completa no próximo domingo (11.03) sua primeira turnê pela Alemanha.

O projeto nasce de uma amizade entre o português João Pires e o brasileiro Vitor Santana. Conheceram-se há quase dez anos e desde então mantém uma cooperação musical intensa. João Pires, que hoje mora no Brasil, traz em sua bagagem influências do flamenco, do fado e da música cabo-verdiana, enquanto Vitor Santana contribui com o samba e baião brasileiros, principalmente. A base musical do trio é composta pelos arranjos de violão numa fusão com a percussão africana.

Band Coladera | Konzert in Köln
João Pires e Vitor Santana no Barinton, em Colónia. Foto: DW/N. Martins

Coladera, que é um ritmo cabo-verdiano, semelhante ao samba ou mesmo ao baião, deu nome ao primeiro disco do trio. Tornou-se na sequência o nome do projeto, que simboliza o encontro do Brasil com Portugal em Cabo Verde.

"Cabo-Verde era, digamos, um entreposto. Grande parte dos escravos que foram para o Brasil, passavam por uma triagem em Cabo Verde, ou seja, isso vai sedimentando uma música”, explica. Os ritmos mais tradicionais da África foram virando o funaná e a coladeira em Cabo Verde, o samba e o baião no Brasil e o semba em Angola. "Um grande caldeirão que o Oceano Atlântico uniu através dos navios negreiros”, conclui Vitor Santana.

O mar é uma figura central neste segundo disco do trio. Com o título em crioulo, La Dôtu Lado traz para o público a imagem do Brasil, de Portugal e do continente africano unidos pelo Atlântico. "Acho que é um disco que fala muito sobre o mar. Todos esses nossos países tem o mar. E a música e o mar tem ali uma simbiose”, reflete João Pires.

Parcerias em expansão

Colaboração e diversificação de parcerias fazem parte da identidade deste projeto, que tem orgulho de ter se transformado numa ponte para a troca musical entre os países lusófonos. "A gente começa a ser visto como essa possibilidade do diálogo, da ponte. A gente quer cada vez mais trabalhar com outros artistas desses países. Até para além de um grupo, o Coladera virou um projeto que recebe várias influências do que a gente chama as possibilidades da língua portuguesa numa mistura transatlântica”, explica Vitor Santana.

Nesta segunda fase, o trio grava com a cantora Aline Frazão, um dos nomes mais conhecidos da nova geração de músicos angolanos. As letras das composições também são fruto de parcerias com os portugueses Edu Mundo e Ana Sofia Paiva, os cabo-verdianos Bilan e Dino d' Santiago e  com a brasileira Brisa Marques. O novo disco traz também uma letra do escritor angolano José Eduardo Agualusa, autor de romances como a "Teoria Geral do Esquecimento”, lançado em 2012.

Coladera: trio de música brasileira, portuguesa e cabo-verdiana chega à Alemanha

Miroca Paris almeja um futuro de colaborações ainda mais abrangentes. "Eu vejo o Coladera a tocar com um espanhol ou um argentino ou com um angolano, guineense, moçambicano. Estamos a representar os continentes destes três países”, descreve o percussionista, que ocupa a posição de Marcos Suzano, músico brasileiro que também deixa sua marca no som deste projeto.

Recetividade

No frio europeu de março, o Coladera emana calor, caraterístico das terras de origem dos ritmos que toca, e faz as pessoas mexerem-se. Elas abandonam a postura muitas vezes reservada para se deixar levar pela musicalidade das culturas lusófonas.

"O que nós sentimos e experimentamos é que é uma música muito rica. Com um swing e um ritmo muito contagiantes. As pessoas dançam. Automaticamente começam a dançar. Acho que essa é a beleza da coisa”, explica João Pires.

Coladera encerra sua primeira passagem pela Alemanha na cidade de Berlim (11 de março), antes passou por Dusseldorf, Colónia e Hannover. O lançamento oficial do La Dôtu Lado será na cidade do Porto, Portugal, dia 21 de março.