1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ex-Presidente do Chade Hissène Habré julgado em recurso

AFP | ar
9 de janeiro de 2017

Antigo Presidente do Chade, condenado em maio a prisão perpétua por crimes contra a humanidade, esteve ausente na abertura do julgamento de recurso. Este julgamento poderá ser um exemplo para o continente africano.

https://p.dw.com/p/2VWha
Tschad Diktator Hissene Habre
Foto: picture-alliance/dpa

O ex-Presidente chadiano Hissène Habré, de 74 anos, exerceu durante o seu mandato (1982-1990) uma implacável repressão pela qual foi condenado a prisão perpétua pelo Tribunal especial africano, em Dacar, há seis meses.

O julgamento que teve início nesta segunda-feira (09.01) poderá prolongar-se por vários dias e a decisão final  é aguardada para o mais tardar a 30 de abril, data do fim do mandato do Tribunal especial africano.

Habré, que chegou ao poder em 1982 através de um golpe militar, tornando-se rapidamente o "arquiteto” de uma grande repressão, esteve ausente na abertura do julgamento em recurso.

Hissene Habre
Hissène Habré à saída do Tribunal especail africano (2013)Foto: AFP/Getty Images

Recorde-se que, na primeira instância, o procurador especial Mbacké Fall qualificou Habré de "verdadeiro chefe dos serviços de repressão no Chade”.

"Combatente do deserto”, "homem da guerrilha” e "chefe de guerra” são qualificações utilizadas para caraterizar o percurso de Habré nas décadas de 70 e 80, período que se inscreve na história agitada do Chade independente.

Nascido em 1942 no norte chadiano, Hissène Habré cresceu no deserto de Djourab, no seio de pastores nómadas, tendo a partir de 1963 frequentado em Paris o Instituto de Estudos Políticos. De regresso ao Chade, em 1971, Habré juntou-se à Frente de Libertação Nacional do Chade (FROLINAT) onde mais tarde assume a liderança, antes de fundar, com o compatriota Goukouni Weddeye, o conselho das Forças Armadas do Norte (FAN).

Habré conhecido no estrangeiro a partir de 1974A partir de 1974, Hissène Habré torna-se conhecido no estrangeiro ao fazer refém, durante três anos, a etnóloga francesa Françoise Claustre, obrigando a França a negociar com a rebelião. Em seguida Habré foi primeiro-ministro do Presidente Félix Malloum e depois ministro da Defesa de Goukouni Weddey, Presidente do Governo de união nacional criado em 1979.

Tschad Gericht in Dakar Hissene Habre Prozess
Palácio da Justiça de Dacar, onde Habré está a ser julgadoFoto: Getty Images/AFP/Seyllou

Nacionalista convicto e grande opositor ao dirigente líbio de então, Mouammar Kadhafi, Hissène Habré desencadeia uma guerra civil e refugia-se no leste do Chade de onde dá início a uma guerrilha contra o regime de Weddey, apoioado por Trípoli, para mais tarde entrar vitoriosamente em N'Djamena, em 1982.

Oito anos de grande repressão

O regime de Habré, apoiado pela França e os Estados Unidos da América, dura oito anos. Este período é marcado por uma grande repressão: os opositores, reais ou supostos, são presos, torturados e muitas vezes executados.Uma comissão de inquérito estima em mais de 40 mil o número de pessoas mortas na prisão ou executadas durante o "reinado” de Habré.

Hissein Habré, une tragédie tchadienne Dokumentarfilm Filmfestival Cannes
Cartaz do documentário sobre a tragédia chadiana do realizador Mahamat Saleh Haroun (Festival de Cannes-2016)Foto: DW/M. Dronne

Em dezembro de 1990, Habré abandona precipitadamente N'Djamena, ao fugir dos ataques perpetrados pelos rebeldes liderados por Idriss Déby Itno (atual Presidente do Chade), um dos generais que abandonou Habré e invadiu o país a partir do Sudão. Habré refugia-se em Dacar para um exílio tranquilo que durou mais de 20 anos.

No Senegal, Habré torna-se um muçulmano praticante e um homem discreto e generoso, chegando mesmo a participar na construção de mesquitas ou no financiamento de um clube de futebol.

Habré é preso em junho de 2013

Em 2011, o Presidente senegalês, Abdoulaye Wade, sob pressão, cria surpresa no meio político africano ao manifestar a intenção de expulsar Hissène Habré do país. Habitantes do bairro onde Habré vivia manifestam-se contra a decisão do presidente sengalês. Finalmente, Habré é preso a 30 de junho de 2013, em Dacar, e acusado por um tribunal especial criado com base num acordo entre a União Africana (UA) e o Senegal.

O seu processo tem início a 20 de julho de 2015 e a 30 de maio do ano seguinte é condenado à prisão perpétua por crimes de guerra, crimes contra a humanidade, torturas e violações.