Começa audiência do caso João Alberto assassinado no Brasil
20 de agosto de 2021A Justiça de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, deu início às audiências de depoimento relativas ao processo relacionado ao caso de João Alberto Silveira Freitas. O cidadão negro foi espancado até a morte por dois seguranças brancos. O fato ocorreu no dia 19 de novembro de 2020 no estacionamento do hipermercado Carrefour, localizado na zona norte da cidade.
As audições iniciaram na tarde desta quarta-feira (18.08), no fórum da capital do Estado. Na primeira audiência, a juíza Lourdes Helena Pacheco da Silva ouviu três testemunhas. Os depoimentos duraram cerca de 4h.
Os indiciados
Os seis indiciados são: Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, ambos seguranças do Carrefour e autores das agressões; Adriana Alves Dutra, funcionária do hipermercado que tentou impedir as gravações feitas pelas testemunhas; Paulo Francisco da Silva, funcionário da empresa de segurança Vector, que impediu o acesso da esposa para tentar socorrer o marido que agonizava; Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende; que auxiliaram na imobilização da vítima.
Todos respondem por homicídio triplamente qualificado - por motivo torpe, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
O ex-polícia militar Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, seguranças e autores das agressões, continuam presos, de acordo com a Polícia Civil. Adriana Alves Dutra, fiscal da loja, cumpre prisão domiciliar. Os outros três acusados do crime respondem o processo em liberdade.
O que diz a defesa
Na avaliação do advogado de defesa de Giovane e Rafael Rezende, o inquérito policial teve como consideração, além dos depoimentos das testemunhas, apenas as imagens de vídeo registradas na noite do fato.
O defensor David Leal ressalta que a perícia não levou em conta o fato de a vítima estar sob o efeito de uma substância toxicológica, o que segundo ele, influenciou na causa da morte de João Alberto. Leal alega que exames toxicológicos ao corpo da vítima encontraram uma substância chamada tolueno, que é encontrada em solventes. “A morte é multicausal, porque o excesso de esforço físico somado aos efeitos colaterais dessas drogas é o que teria levado a óbito’’, justifica.
O advogado David Leal reconhece que seu cliente Giovane Gaspar da Silva teve participação no crime, no entanto não foi o responsável pela morte de João Alberto, como acusa a Polícia Civil. “Os socos só causaram escoriações. O que os peritos dizem é que a pressão no tórax [feita por Magno é o que] teria levado a morte porque causou uma asfixia mecânica”, diz.
Rafael Rezende, funcionário do Carrefour que imobilizou a vítima, de acordo com David, não deveria nem ser indiciado e caraterizou a ação da Polícia Civil como ‘’bizarra’’ e ‘’arbitrária’’. “Primeiro ele foi ouvido como testemunha. Não foi dito para ele que poderia responder pelo crime de homicídio”, argumenta.
A DW tentou contactar a defesa de Magno Braz Borges, segurança do Carrefour, mas o advogado não atendeu aos chamados. Os defensores de Paulo Francisco da Silva e Kleiton Silva Santos não foram localizados. Já o advogado de Adriana Alves Dutra, Felipe Bertoni, disse que a sua cliente em nenhum momento contribuiu para a morte, pois só teria chamado “a segurança, ligado para a ambulância e para a polícia.”
Acusação diz que ação é por racismo
A advogada de acusação da família de João Alberto, Luíza Hrynyszyn Menezes, reforçou que o crime foi praticado por motivo torpe em razão da condição de vulnerabilidade económica e de preconceito racial em relação à vítima. Ressaltou ainda que “o delito realizado dificultou a defesa da vítima, agredida de forma excessiva e brutal pelos denunciados, ocasionando a morte do homem’’.
A segunda audiência judicial está marcada para ocorrer no próximo dia 25 de agosto no Foro de Porto Alegre.