Começa no Huambo julgamento do caso "Kalupeteka"
18 de janeiro de 2016O início do julgamento no Tribunal Provincial do Huambo, em Angola, está marcado para as 09:00 desta segunda-feira (18.01). No banco dos réus sentam-se José Julino Kalupeteka, líder da seita "A Luz do Mundo", e dez fiéis.
Segundo a versão do Governo angolano, os acusados estiveram por detrás dos confrontos no monte Sumi, na província do Huambo, a 16 de abril de 2015, causando a morte de nove polícias e 13 fiéis da referida igreja.
Na altura, partidos da oposição, nomeadamente a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), denunciaram a existência de centenas de mortos. Acusações sempre refutadas pelo Governo.
"Batalha judicial"
Salvador Freire, presidente da Associação Mãos Livres, organização de direitos humanos que defende Kalupeteka, antevê uma "batalha judicial", na qual pretendem "esgrimir todos os argumentos no sentido de ver reposta a liberdade de Kalupeteka". Segundo o advogado, o líder da seita "A Luz do Mundo" e os restantes acusados. " não cometeram este ato pelo qual foram indiciados".
Os réus são acusados de co-autoria material de um crime de homicídio qualificado consumado, um crime de homicídio qualificado frustrado e ainda crimes de desobediência, resistência e posse ilegal de arma de fogo. José Julino Kalupeteka, que está detido preventivamente há cerca de nove meses, refuta qualquer responsabilidade na morte dos agentes.
Em nome da transparência do processo, o advogado espera que o Tribunal Provincial do Huambo não venha a impedir o acesso dos meios de comunicação social à sala de audiência do julgamento. "Precisa-se que haja transparência, que as pessoas observem aquilo que está a decorrer no julgamento para tiraram as suas ilações", afirma. "Penso que não haverá impedimento de quem quer que seja - imprensa internacional ou nacional".
Reforço policial
No Huambo, o julgamento já começou a despertar a atenção da população, não só pela dimensão do caso, mas sobretudo devido ao elevado número de agentes espalhados pelas principais artérias da cidade.
Vários cidadãos ouvidos pela DW África dizem acreditar na inocência de José Julino Kalupeteka, enquanto outros afirmam preferir aguardar para ver. "Espero que ele não seja condenado", afirma um cidadão. "O Governo agiu muito mal, porque no local onde Kalupeteka estava com os seus crentes havia civis, não havia militares. Como é possível que o Governo tenha mandado forças especiais? É desumano", sublinha.
Outro habitante pede "justiça" e que pelo menos se cumpram os parâmetros legais. "Se ele tiver sido o causador disso, tudo bem. Se não for, então que seja absolvido", defende. O estudante de direito Nelson do Rosário diz que é preciso ouvir Kalupeteka.