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Moçambique: Comité central coloca FRELIMO à prova

22 de abril de 2019

Comité central da FRELIMO acontece num momento de fragilização do partido devido aos sucessivos casos de corrupção. Reverter isso será um dos desafios do encontro que coloca à prova capacidade de purificação da FRELIMO.

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Bandeira da FRELIMO, partido que governa em MoçambiqueFoto: DW/A.Zacarias

O desastre causado pelo ciclone Idai foi a justificação dada pela FRELIMO para adiar o comité central do partido,  previsto para 22 a 24 de março, para início de maio. Num ano eleitoral marcado pela realização, pela primeira vez no país, da eleição de governadores provinciais, o encontro será dominado por esse tema. Mas há outras preocupações do partido no poder que marcarão a reunião dos militantes do partido, como a necessidade de reafirmação política, entende Calton Cadeado.

O analista político diz que "há hoje um sentido de preocupação com o avolumar de posições que dizem claramente que esta eleição vai dizer muita coisa na trajetória do nosso processo democrático e também da própria paz. Então, a FRELIMO está interessada em fazer desta eleição uma vitória que mostre que afinal de contas ainda é uma força relevante no processo político democrático. E mais do que isso, há um sentido de querer mostrar que a FRELIMO é uma força relevante na liderança dos processos".

Higienização é uma questão de sobrevivência

Comité central da FRELIMO, o momento de purificação

O comité central realiza-se num momento em que o país vive algumas das piores crises da sua história, algumas delas orquestradas por altos quadros da FRELIMO, como por exemplo as dívidas ocultas que mergulharam o país numa crise financeira sem precedentes. Este escândalo é a prova incontestável de que o partido está profundamente afetado pela corrupção e desonestidade.

Descurar essas enfermidades significa continuar a baixar os níveis de popularidade do partido, o que seria um tipo no pé em época de eleições. Calton Cadeado entende que "a FRELIMO sente a necessidade de dar uma nova imagem de purificação" a "um partido que também está preocupado com a sua marca fora de escândalos económicos que se notaram nos últimos tempos".

O próprio líder do partido e Presidente do país, Filipe Nyusi, tem o seu nome ligado às dívidas ocultas. Além disso, a forma como o seu Governo geriu o dossier foi pouco convincente e por isso altamente contestada. Embora Filipe Nyusi seja dado como o candidato certo do partido à próxima corrida presidencial, há correntes que não descartam a possibilidade de lhe ser retirado o apoio nesse sentido.

André Thomashausen é especialista em Direito Internacional e advinha que "isso poderia ter como consequência não ser [Nyusi] o candidato do partido no próximo mandato e a FRELIMO teria de procurar um novo candidato para Presidente e chefia do Executivo".

Mosambik Maputo -  Samora Machel Jr, Sohn von Samora Machel, ehemaliger Präsident von Mosambik
Samora Machel Jr., membro da FRELIMOFoto: Ferhat Momade

Ciclone Idai, um azar que joga a favor da FRELIMO

Mas o acaso ainda consegue ser generoso com a FRELIMO neste momento de fragilidade. O ciclone Idai foi uma desgraça da natureza que ofereceu ao partido a oportunidade de promover a integridade que tanto falta a muitos dos seus membros como valor maior no processo de assistência humanitária.

A FRELIMO soube assim responder positivamente a um povo que já acordou e por isso muito mais vigilante: "Essa é uma das coisas, na minha forma de ver, inevitável no debate à volta dos assuntos que caracterizam o processo político nos últimos tempos e no comité central este vai ser um elemento para mostrar que a FRELIMO, como partido que governa, está neste momento a fazer uma gestão íntegra, e, mais do que isso, a colocar-se na disposição de ser escrutinada", diz Calton Cadeado.

E o académico alerta: "Não nos esqueçamos que o Presidente da República e líder da FRELIMO disse claramente que nós temos de abrir espaço para a entrada de órgãos ou entidades independentes na monitorização do processo de gestão, como quem diz que temos de dar a mão à palmatória em praça pública".

Que tratamento será dado ao caso Samito?

Prof. Dr. Andre Thomashausen
André Thomashausen, especialista em Direito InternacionalFoto: Arquivo Pessoal

Mas a viragem não é apenas um desafio a que a FRELIMO está sujeita na esfera nacional. Na vida interna do próprio partido, foi já estabelecido um marco que exige mudanças. A decisão de Samora Machel Jr. de se candidatar a edil da capital moçambicana sem o apoio do partido agitou as suas hostes.

Supõe-se que este assunto possa vir a ser discutido no comité central, embora alguns setores acreditem que a FRELIMO com a sua astúcia possa vir a postergar esse caso como forma de empatar possíveis ambições políticas do visado, sobre o qual recai já um processo disciplinar.

Sobre o caso, Samito, como também é conhecido Samora Machel Jr, vaticinou: "Acho que há-de haver discussão acesa. Hão-de haver várias opiniões em termos de desfecho: se tenho de ser expulso, se tenho de continuar dentro do comité central ou se tenho de sofrer uma sanção... Não sei."

Instabilidade sem prazo à vista

Não menos preocupante é o dossier Cabo Delgado. Os ataques armados incessantes põem em causa as ambições económicas de Moçambique e as autoridades não têm dado sinais de estarem a conseguir por termo aos mesmos. Essa incapacidade deverá estar também no topo da agenda do comité central.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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