Efeitos pós-Brexit em África
6 de outubro de 2017A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) está marcada para 29 de março de 2019, dois anos após o início do processo chamado Brexit. Há cerca de 15 meses, a Grã-Betanha vem negociando os detalhes de sua saída do bloco.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, fez um grande discurso em Florença, na Itália, a 22 de setembro, em que reafirmou sua crença de que a Grã-Bretanha pode atingir um acordo que conceda às empresas britânicas acesso especial aos mercados europeus, ao mesmo tempo em que oferece ao Reino Unido flexibilidade suficiente para moldar seu próprio futuro, independente da UE. Empresas e líderes africanos também já se preparam para a eventual saída do Reino Unido da UE.
O diretor-gerente da FTI Consulting, empresa de consultoria de negócios com sede em Londres, Joel Kibazo, afirma que alguns governos africanos estão a começar a observar como suas relações irão funcionar com o Reino Unido.
"Vi alguns representantes de governos africanos em Londres, nas últimas duas semanas, a conversar com o Departamento de Comércio do Reino Unido para ver em que ponto se encontram".Um aspecto do acordo final do Brexit que é de particular interesse para África é se a Grã-Bretanha sairá ou nao da união aduaneira da União Europeia.
Isso se tornaria inevitável se a UE não conceder flexibilidade suficiente ao Reino Unido, sugere Emma Wade-Smith, comissária Comercial do Reino Unido para África. "O Governo do Reino Unido deixou claro que quer ter a capacidade de fazer seus próprios acordos comerciais e, se isso significa deixar a união aduaneira, então é isso que terá que acontecer", completou.
Realidade para a África
Do ponto de vista africano, a retórica dos políticos britânicos de um Reino Unido global, que estabelece novas relações com o resto do mundo, incluindo África, só é significativa se a Grã-Bretanha sair da união aduaneira e se livrar da dependência da Comissão Europeia, defende Max Jarrett, diretor-chefe do Secretariado do Painel de Progresso de África, uma fundação que advoga pelo desenvolvimento sustentável e equitativo para África.
"Os únicos benefícios económicos do Brexit que posso ver para os Estados Africanos seriam se a Grã-Bretanha dissesse que iria rever os Acordos de Parceria Económica. Pelo contrário, não faz diferença se eles estão dentro ou fora da UE”.Para Jarrett, se os países africanos trabalharem coletivamente, eles têm a oportunidade de chegar a um acordo futuro com o Reino Unido que evite que os dois lados sejam prejudicados, ao contrário dos acordos de comércio existentes entre África e a União Europeia, o que seria injusto de acordo com o especialista.
"As políticas da UE têm sido prejudiciais a África e suas tentativas de alcançar um comércio livre pan-africano, quando a UE tenta assinar acordos económicos país por país, ao invés de envolver a União Africana na EU”.
Países africanos fortalecidos?
Max Jarrett ainda acredita que o Brexit poderia permitir que os países africanos negociassem com um Reino Unido enfraquecido e, portanto, em condições equitativas.
"A Grã-Bretanha tem que ser muito construtiva em criar novas relações comerciais com África, enviando sinais de que está disposta a entrar em discussões que deixam os Acordos de Parceria Económica e passam para o ganha-ganha”.
O executivo do Painel de Progresso de África acredita que o Reino Unido deve comprometer-se a reescrever os Acordos de Parceria Económica (APE), que considera como a fonte da exploração económica africana.