Comunidade de Sant´Egídio quer ajudar a acabar com crise
3 de fevereiro de 2014A organização católica italiana refere ainda que uma das partes deverá ceder, mas não se pode perceber que isso seja derrota para quem o fizer.
A Comunidade de Sant´Egídio foi obreira das conversações que culminaram com a assinatura dos acordos de paz, em 1992, que puseram fim a uma guerra civil de 16 anos entre a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
E nas negociações deste sábado (01.02) entre o Governo e a RENAMO houve alguma evolução. A Comunidade de Sant´Egídio diz que está disponível para mediar as conversações entre a RENAMO, o maior partido da oposição, e o Governo de Moçambique, assim que tal for solicitado.
Sem revelar, a organização disse que já foi contatada por uma das partes, para mediar a tensão politico-militar, mas ainda não recebeu formalmente o convite para o efeito.
A Comunidade tem fé de que este problema vai acabar, tendo em conta o reinício das conversações. Aliás, a organização refere que com a retomada do diálogo o país poderá redesenhar outras estratégias para preservar a paz.
António Sardinha da Comunidade de Sant´Egídio lembra que no passado o Governo e a RENAMO tinham muita confiança em relação a organização: "Se esta confiança for renovada e se isso for feito, logicamente que nós estamos abertos para trabalhar para paz."
Sabe-se que a Comunidade de Sant´Egídio foi a obreira da paz em Moçambique, alacançada em 1992. A organização juntou o Governo e a RENAMO nas longas negociações para a paz.
Sant´Egídio de prontidão
Sem querer interferir, aquela organização mostrou disponibilidade em ajudar a reencontrar a paz no país. "Se a Comunidade for convidada certamente vai dizer sim porque faz um caminho em direção ao bem, em direção a paz. Nós na Comunidade somos obreiros da paz", declarou António Sardinh.
Nas conversações entre o Governo e a RENAMO para a busca de estabilidade político-militar, a Comunidade de Sant´Egídio diz que uma das partes deverá ceder: "As vezes é um jogo em que se aceita perder e ganhar, isso é que é o diálogo. Eu não posso dialogar consigo se não aceito perder e ganhar, então o diálogo significa perder alguns pontos e ganhar outros. A cedência não significa perder, pelo contrário, significa enriquecer."
Com a crise político-militar que se iniciou em abril de 2013, Moçambique deixa de ser bom exemplo de estabilidade e paz de que desfrutou ao longo dos últimos 21 anos.
A Comunidade não perdeu a esperança de que a paz seja restabelecida. António Sardinha promete que a organização vai trabalhar a todos os níveis para manter a paz: "O interesse da Comunidade não é de obter uma e outra vantagem, mas sempre a partir do principio da Comunidade, que é o trabalho pelos mais pobres e mais fracos, sabemos que a guerra é a mãe de todas as pobrezas."
As cedências
Entretanto, as negociações entre o Governo e a RENAMO foram retomadas este sábado (01.02). "Conseguimos também acordar e afirmar que embora nesta primeira fase não vamos ter na mesa a comunidade internacional e pessoas de boa vontade, não moçambicanas, ou mesmo moçambicanas, com a excepção dos que foram designados, mas deixamos o espaço aberto para os cidadãos nacionais ou estrangeiros darem a sua contribuição para que as negociações tenham sucesso", disse Saimon Macuiane, chefe da delegação da RENAMO.
O Governo também cedeu em muitos pontos. José Pacheco, chefe da delegação do Governo, refere os procedimentos para que seja definida a composição da equipa de observadores: "Identificamos cinco potenciais observadores nacionais, iremos fazer as devidas consultas para aferir o seu interesse e a sua disponibilidade para participarem no diálogo."
Os desentendimentos entre a RENAMO e o Governo caraterizaram-se por confrontos militares entre as partes e ataques do partido de Afonso Dlhakama, desde abril de 2013, que culminaram com a morte de quase meia centena de pessoas.