Condenação de Ousmane Sonko gera confrontos no Senegal
1 de junho de 2023Centenas de jovens saíram, esta quinta-feira (01.06), à rua em várias cidades senegalesas, após o líder da oposição Ousmane Sonko ser condenado a dois anos de prisão por aliciamento de menores, um veredicto que o impedirá de concorrer às próximas presidenciais.
Os protestos ocorreram em diferentes bairros de Dacar, a capital, mas também em algumas cidades como Ziguinchor, Bignona (sul do país), Saint-Louis, Louga (norte), Kaolack (centro-oeste) e Mbour (oeste).
Os manifestantes ergueram barricadas com pneus e veículos em chamas, atiraram pedras às forças policiais e saquearam lojas e edifícios públicos. Em resposta, as autoridades utilizaram gás lacrimogéneo para controlar a situação.
Em declarações, esta tarde, à imprensa, o ministro da Justiça, Ismaïla Madior Fall, afirmou que Ousmane Sonko pode ser detido "a qualquer momento".
"A sentença deve ser executada. Trata-se de um caso de contumácia e a medida pode ser executada em qualquer altura", afirmou.
Sobrevivência do país "em jogo"
Em comunicado, o partido político de Sonko - Patriotas do Senegal para o Trabalho, a Ética e a Fraternidade (PASTEF), declarou que "este veredicto sobre a acusação é a última etapa da conspiração urdida por Macky Sall e os seus acólitos contra o principal opositor deste país".
"Nunca a República do Senegal e as suas instituições foram tão desprezadas, manchadas e profanadas! A sobrevivência do Senegal e do povo senegalês está em jogo!", declarou o PASTEF.
O partido de Sonko denunciou "energicamente" o veredicto, apelou à mobilização em todo o Senegal e pediu às forças da ordem e ao exército que se colocassem ao lado do povo.
"Povo senegalês, parem todas as atividades e saiam à rua para fazer frente aos excessos ditatoriais e sanguinários do regime de Macky Sall até que ele deixe a chefia do Estado!", lê-se no comunicado.
Dois anos de prisão
Um tribunal de Dacar condenou Sonko a dois anos de prisão por corrupção de menores, depois de ter sido julgado em 23 de maio, após ter sido acusado por uma jovem massagista, Adji Sarr, de "violações repetidas" e "ameaças de morte".
Esta condenação torna o candidato da oposição inelegível para as eleições presidenciais previstas para fevereiro de 2024, de acordo com o Código Eleitoral senegalês.
O veredicto foi anunciado numa altura de protestos dos seus apoiantes, enquanto Sonko está detido em casa desde domingo, rodeado de forças policiais, uma restrição das liberdades que a organização Amnistia Internacional descreveu como ilegal, uma vez que o líder da oposição não tinha sido notificado de "qualquer ato".
Esta acusação surge depois de o líder da oposição ter sido condenado, em 08 de maio, a seis meses de prisão suspensa por difamação e calúnia pública de um ministro senegalês, que acusou de corrupção.
Sonko e a sua comitiva denunciaram a "instrumentalização" da justiça por Macky Sall (presidente do país desde 2012 e reeleito em 2019) para o impedir de concorrer às eleições de 2024.