Etiópia: Cai reputação internacional de Abiy Ahmed
10 de julho de 2021No início da semana, um comunicado de imprensa, excecionalmente forte, dos Estados Unidos da América, dava conta do apelo do Secretário de Estado norte-americano Antony Blinken ao Primeiro-Ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, para um cessar-fogo imediato na região de Tigray. No mesmo documento, Antony Blinken condenava os obstáculos colocados aos trabalhadores humanitários para prestar assistência à população atingida e "instava o Primeiro-Ministro Abiy Ahmed a comprometer-se" com uma série de medidas previamente delineadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
O governo da Etiópia tem sido acusado de estar a bloquear a ajuda humanitária à região de Tigray. No entanto, e em declarações à DW, a embaixador da Etiópia na Alemanha, Mulu Solomon Bezuneh, rejeitou tais acusações: "É completamente falso, porque o governo está a tentar fornecer ajuda. Era a TPLF que estava a emboscar o apoio humanitário, tendo chegado mesmo a tentar atacar a caravana de ajuda", disse.
As autoridades etíopes anunciaram na segunda-feira que iriam permitir voos de ajuda para Tigray, onde as agências de ajuda humanitária estão a alertar para uma catástrofe humanitária, caso a ajuda não chegue em breve.
No entanto, estes voos, acrescentou o governo de Abyi Ahmed, terão de cumprir "estritamente" as diretrizes publicadas: "O Governo declarou claramente que todos os voos do estrangeiro ou dos aeroportos nacionais da Etiópia devem aterrar primeiro no aeroporto de Adis Abeba antes de prosseguirem para Tigray".
Mas, segundo o diretor-geral da Autoridade Etíope da Aviação Civil, desde quarta-feira, nenhum desses voos tinha saído de Adis Abeba.
Entretanto, esta sexta-feira (09.07), o Governo federal da Etiópia expressou a sua insatisfação com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), acusando os seus relatórios sobre a região de Tigray de serem "inexatos".
"O Governo federal tem também a impressão de que as declarações e relatórios da OCHA parecem ter sido redigidos para encorajar e felicitar a Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF), que tem continuado a aumentar a má perceção e levado a comunidade internacional a interpretar mal a situação na região", lê-se numa declaração.
Nesse sentido, o governo apela à OCHA para que se abstenha de emitir declarações "tendenciosas e enganadoras" e tome "medidas corretivas" em breve para "evitar efeitos prejudiciais sobre a cooperação de longa data" que o Governo etíope e a organização construíram desde 1984.
O litígio sobre a barragem
Para além da situação em Tigray, o país esteve, esta quinta-feira (08.07), na agenda do Conselho de Segurança das Nações Unidas por outro motivo: a disputa sobre a sua gigantesca barragem hidroelétrica no Nilo, a Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD).
No encontro, Egito e Sudão instaram o Conselho de Segurança a empreender uma "diplomacia preventiva" e pediram um acordo juridicamente vinculativo para a resolução da disputa. Os dois países, que se encontram a jusante do Nilo, veem a barragem como uma grave ameaça ao abastecimento de água.
Por seu lado, a Etiópia insiste que o assunto pode ser resolvido pela União Africana. Esta sexta-feira (09.07), um dia após o Conselho de Segurança da ONU, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, usou a sua conta do Twitter para voltar a defender que o enchimento da megabarragem no Nilo Azul "não irá infligir qualquer dano significativo" nem ao Egito, nem ao Sudão.
Atualmente, a GERD está 80% concluída, esperando-se que atinja a plena capacidade de produção em 2023, o que a tornará na maior central hidroelétrica africana e a sétima maior do mundo, segundo órgãos de comunicação social estatais.
Após o fracasso das últimas rondas negociais, realizadas entre 04 e 06 de abril sob os auspícios da presidência rotativa da União Africana, a Etiópia disse que iria avançar com o processo de enchimento da GERD e que fez uma oferta ao Egito e ao Sudão para facilitar a troca de informações sobre o processo, que ambos os países rejeitaram.
Reputação cai
Quando Abiy Ahmed se tornou primeiro-ministro, foi aclamado como um pacificador que já havia inclusivamente recebido o Prémio Nobel da Paz em 2019.
Agora, o conflito em Tigray e a disputa da barragem GERD têm estado a manchar a sua reputação no estrangeiro.
Também em casa, nota o analista político Befekadu Hailu, o entusiasmo inicial desvaneceu:
"Muitos grupos de interesse político descobriram que o Abiy Ahmed que esperavam era diferente do verdadeiro Abiy Ahmed. Ele estava envolvido no governo anterior e tinha as suas próprias ambições (…) quando estes grupos perceberam que ele não os representaria realmente, começaram a criticá-los publicamente e a confrontá-lo", explica.
Para além dos conflitos já citados, o facto de, no mês passado, a Etiópia ter eleito um novo parlamento e os resultados ainda não terem sido tornados públicos, está também a ser muito criticado no país.