Menor ferida em Bissau: "Exige-se justiça do Estado"
14 de dezembro de 2023Os confrontos armados entre elementos da Guarda Nacional e Forças Armadas em Bissau, a 1 de dezembro, causaram graves ferimentos a uma menor de 13 anos. A vítima foi atingida por uma bala perdida na perna, vivendo há 14 dias com o projétil alojado devido à incapacidade dos hospitais públicos em removê-lo.
Entretanto, médicos militares da missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ofereceram-se para remover a bala.
Fodé Mané, jurista e presidente da Rede Nacional de Defensores dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau, afirma que o Estado deve ser responsabilizado por este incidente.
DW África: Quem deve ser responsabilizado por este incidente?
Fodé Mané (FM): Considerando que uma das principais responsabilidades do Estado é garantir a segurança da população, ele deve ser responsabilizado quando um cidadão inocente é atingido involuntariamente por uma bala. Na situação atual da Guiné-Bissau, temos apenas uma pessoa responsável. Portanto, essa pessoa, que tem poder de fato no momento, é responsável por esta situação. Precisamos levantar a voz para que esta criança inocente seja tratada.
DW África: Passaram 14 a 15 dias desde o incidente, e a criança não obteve resposta do setor de saúde na Guiné-Bissau. Ou seja, a criança vive todo esse período com a bala alojada. Como você vê essa situação?
FM: Quatorze dias sem tratamento, e sabemos que mesmo em lugares com atendimento médico de qualidade, ficar 14 dias com uma bala alojada no corpo terá consequências cada vez mais graves. A condição de saúde vai se deteriorar ainda mais em um país onde não há recursos técnicos nem humanos para fornecer tratamento de qualidade.
DW África: Como você percebe a falta de resposta do setor de saúde interno na Guiné-Bissau e a necessidade de assistência por parte da CEDEAO?
FM: Quem deveria resolver isso está distraído com outras questões. Portanto, essa missão sem mandato oferecerá assistência médica à criança baleada, mas estamos aguardando a autorização do Governo. Quando se trata de questões humanitárias para tratar uma criança, aguardamos permissão. Onde está a humanidade nisso?
DW África: Como você descreve a situação atual na Guiné-Bissau, e acha que os eventos recentes podem criar situações de insegurança semelhantes aos ocorridos entre 30 de novembro e 1 de dezembro, quando houve confrontos na capital?
FM: O aparato de segurança em torno da Assembleia Nacional Popularmostra uma disposição para empreender uma ação muito musculada, traduzida no lançamento de gás lacrimogénio às crianças da escola Patrice Lumumba, localizada a poucos metros da Assembleia Nacional Popular. Elas foram evacuadas para minimizar os danos. Isso significa que não é necessário consultar um oráculo para saber que a ação continuará, porque quando há ilegalidade, a tendência é haver uma reação. Estamos a acompanhar, e já houve denúncias de dois sequestros, um já foi libertado, mas o outro ainda não sabe do paradeiro.