Congo: Papa indignado com "exploração sangrenta da riqueza"
2 de fevereiro de 2023Perante cerca de de 65.000 fiéis que lotaram o estádio de futebol de Kinshasa, o líder da Igreja católica encorajou o povo da República Democrática do Congo (RDCongo) a assumir o seu destino.
"Não se deixem manipular por indivíduos ou grupos que tentam manter o país sob o domínio da violência e instabilidade, de modo a poderem continuar a controlá-lo", disse o pontífice à multidão no Estádio dos Mártires.
Ao ritmo dos tambores, canções e danças tradicionais, Francisco entrou no estádio a bordo do seu "papamóvel", saudando e abençoando a multidão.
O Papa apelou aos fiéis para darem prioridade à "comunidade", face ao "tribalismo" e ao "individualismo", convidando-os a darem as mãos e a permanecerem em silêncio enquanto pensam "nas pessoas que os ofenderam".
"Que sejam vocês a transformar a sociedade, os que transformam o mal no bem, o ódio no amor, a guerra na paz. Querem ser que tipo de pessoa?", disse o Papa aos jovens, num país onde cerca de 60% da população tem menos de 20 anos.
Na quarta-feira (01.02), em Kinshasa, Francisco encontrou-se com vítimas da violência na RDCongo. Cerca de 120 mil pessoas tiveram de fugir das suas casas por causa de novos confrontos entre forças governamentais e rebeldes no leste do Congo, segundo a organização não-governamental Save the Children.
Ganância causa conflitos
Na semana passada, houve fortes combates entre as forças governamentais e os combatentes do grupo rebelde M23 na região, relatou a ONG na quarta-feira.
O Papa tinha planeado visitar a cidade de Goma, perto da fronteira com o Ruanda, mas abandonou a ideia devido à escalada de violência na zona.
Francisco reconheceu o sofrimento e disse que uma das principais razões do mal é a corrupção e a ganância, apelando a que as pessoas não sucumbam a estas tentações: "Se alguém vos oferecer um suborno, ou prometer favores e muito dinheiro, não caiam na armadilha. Não se deixem enganar, não sejam sugados para o pântano do mal", disse aos jovens.
Papa repudia "exploração sangrenta"
O pontífice expressou também "indignação" perante a "exploração sangrenta e ilegal da riqueza" da RDCongo, onde a violência de grupos armados matou centenas de milhares de pessoas e provocou milhões de deslocados.
Nas bancadas, milhares de adolescentes, estudantes e pais cantavam e aplaudiam sob um calor intenso. Muitos usavam t-shirts, camisas ou bonés com a imagem de Francisco, o primeiro Papa a visitar o país desde João Paulo II, em 1985.
Na sexta-feira (03.02), Francisco viajará para Juba, a capital do Sudão do Sul, o Estado mais jovem e um dos mais pobres do mundo.