Cooperação com África em destaque na 10ª cimeira dos BRICS
24 de julho de 2018O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, quer aproveitar a 10ª cimeira BRICS, que arranca esta quarta-feira (25.07), em Joanesburgo, para melhorar a imagem do seu país, depois de anos de crises políticas com muitos casos de corrupção na era do seu antecessor Jacob Zuma.
Mas esta cimeira também contará com a presença de governantes de dois PALOP. Falando à imprensa, em Joanesburgo, na apresentação do programa oficial da cimeira, Lindiwe Sisulu, ministra das Relações Internacionais e Cooperação sul-africana, sublinhou que a visita dos dois líderes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) insere-se no âmbito da cimeira de líderes que pretende reforçar as relações entre os BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e África.
"A adesão aos BRICS tem sido benéfica para o nosso país e gostaríamos de garantir que o resto de África possa também usufruir dos BRICS, particularmente agora que o continente começa a dar os primeiros passos na criação de zonas de comércio livre, em que a maioria dos países já assinou o acordo, que é um passo importante para África", disse a chefe da diplomacia sul-africana.
"Criámos um programa especial para que os Estados africanos possam participar e uma ocasião adicional especialmente para os países membros da SADC, em particular. A África do Sul preside atualmente à SADC e, na nossa opinião, a grande maioria das questões que discutimos entre nós, na região, poderiam beneficiar do acesso direto aos BRICS", adiantou a ministra Lindwe Sisulu.
Segundo a governante, além de João Lourenço (Angola) e Filipe Nyusi (Moçambique), participam ainda nesta cimeira BRICS, mais seis chefes de Estado do continente africano, nomeadamente da Namíbia, Gabão, Senegal, Uganda, Togo e do Ruanda.
O encontro entre os líderes dos BRICS e os seus homólogos africanos está agendado para o dia 27, último dia da cimeira, indica o programa oficial.
Dez anos de cooperação
A ministra afirmou que a 10.ª Cimeira BRICS será um "marco" na história dos BRICS, porque representa uma década de cooperação. A reunião culminará com a adoção da "Declaração de Joanesburgo" que inclui as metas acordadas pelos cinco países membros do BRICS até ao final do ano. A presidência rotativa da África do Sul decorrerá até 31 de dezembro de 2018.
A 10.ª Cimeira BRICS, que reúne um grupo de potências emergentes terá como tema a "Colaboração para o Crescimento Inclusivo e Prosperidade Partilhada na 4.ª Revolução Industrial" e decorrerá no Centro de Convenções de Sandton, no norte de Joanesburgo, sede da bolsa de valores e da maioria das multinacionais globais com operações em África.
"Nos últimos anos, a África do Sul perdeu muita credibilidade ao nível da política externa", afirma Philani Mthembu, diretor do instituto sul-africano para o diálogo global. "A economia também se ressentiu, e muito. Esta cimeira é uma oportunidade para o novo Presidente marcar pontos, explicando as linhas mestras da sua política externa", acrescenta.
Segundo Mthembu, "a África do Sul vai querer aproveitar para reforçar a cooperação com países como a China, a Índia e a Rússia, sem - no entanto - menosprezar os seus tradicionais bons contactos com os Estados Unidos e a Europa. A África do Sul reconhece que as relações internacionais podem ser um veículo muito importante para a resolução de problemas locais".
"Por isso", diz o especialista, "o Presidente sul-africano vai-se esforçar por incrementar o desenvolvimento económico através do apoio ao comércio e ao investimento externos também com os BRICS".
Infraestruturas, energia e empoderamento
Em que áreas é que os BRICS poderão e deverão investir? As propostas sul-africanas preveem a construção de um centro de pesquisas medicinais, em África, que deverá desenvolver vacinas e medicamentos contra doenças como a malária, o HIV ou a tuberculose.
Outra área prioritária será a das energias limpas. Um ponto igualmente importante é o reconhecimento do papel das mulheres, cujo contributo para o desenvolvimento não poderá ser esquecido, devendo - sim - ser apoiado, afirma Jakkie Cilliers, analista do Instituto sul-africano para questões de segurança.
"A vontade de cooperar nestas e noutras áreas continua grande. A China é sem dúvida o motor. E todos os BRICS tentam tirar partido deste relacionamento especial com a China no quadro dos BRICS, especialmente a África do Sul, que apenas contribui para 3 por cento da força económica dos BRICS, mas continua a ser vista como a maior potência económica do continente africano”, explica Jakkie Cilliers. A próxima cimeira BRICS terá lugar no próximo ano, no Brasil.