Coronavírus: Estudantes dos PALOP em pânico em Wuhan
28 de janeiro de 2020"Queremos que nos ajudem a sair desta cidade, mesmo que seja para outra cidade aqui da China. Só queremos sair daqui", conta desesperada Jéssica Mendes Silva. A estudante guineense vive no epicentro do coronavírus, a cidade de Wuhan, onde frequenta o terceiro ano do curso de tecnologia.
"Nem dá para receber comida. Não há comida. Para comprar comida aqui é difícil. Há uma semana que o meu pai não consegue mandar dinheiro porque os bancos estão fechados. Realmente estamos aflitos", diz em entrevista à DW África.
Na capital da província de Hubei, no centro da China, há três estudantes guineenses. Guilende Pereira é uma delas e está igualmente alarmada: "Olha, aqui a situação está muito crítica, não sabemos o que fazer. Não tenho muito o que dizer, mas estamos muito mal aqui."
Em Pequim a situação é menos complicada
Quem vive fora desta região crítica não está tão alarmado assim. Há muita preocupação, sim, mas a vida ainda é levada com alguma normalidade, conta-nos o estudante angolano Arnaldo Dala, que frequenta o curso de engenharia em Pequim: "Por eu estar em Pequim, que é a capital, o vírus não se alastrou de tal forma que os mercados tenham escassez de comida. Ainda há alimentos em supermercados e mercados informais."
O moçambicano Francisco Sitói Jr. também vive na capital chinesa. O estudante diz que está de férias, que deveriam terminar a 24 de fevereiro, mas, por causa da doença, as autoridades chinesas adiaram o recomeço das aulas para uma data a anunciar.
A rotina de Jr. mudou muito desde o dia 20 de janeiro, quando começou a haver muita informação acerca do coronavírus.
"A situação que estamos a viver agora é de pânico, está todo o mundo com medo desse coronavírus, que tem vindo a matar e a contaminar cada vez mais pessoas - até hoje são cerca de 4.000. Então, a situação é de pânico, alerta total. A rotina mudou muito, digamos que estamos numa prisão domiciliar, somos até impedidos de nos movimentar."
A maioria dos estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), está na China no âmbito de parcerias entre os seus países e o gigante asiático, beneficiando de bolsas de estudo.
"Embaixada de Angola devia olhar pelos estudantes em Wuhan"
Neste momento crítico, que apoio recebem os estudantes das suas embaixadas?
"Não tenho muito a dizer a cerca da embaixada, porque faz pouco tempo que recebi uma chamada deles a perguntar como eu estava e como se encontravam também os outros alunos da mesma faculdade que eu. Perguntaram-me coisas básicas, se estava a faltar-me alguma coisa", começa por responder Arnado Dala, de Angola.
O estudante recomenta ainda: "Se for para fazer alguma coisa [a mais], penso que a embaixada devia olhar para os estudantes que estão na cidade mais assolada pelo vírus. Que eu saiba, a embaixada está a fazer tudo o que é possível, consoante as suas limitações, vendo que estamos num outro país, apesar de que eles podiam fazer mais, como os outros países estão a fazer: estão a tirar os seus concidadãos dos lugares onde o vírus é mais alarmante".
E Dala assegura: "Até agora tenho conhecimento que nenhum angolano que se encontra naquela cidade foi infetado pelo coronavírus".
Estudantes em permanente contacto com a embaixada de Moçambique
Também os moçambicanos não se sentem desamparados, pelo menos os que não estão em Wuhan.
Francisco Jr. conta o que a embaixada moçambicana tem feito pelos seus concidadãos: "Apoio temos tido, em termos de informação. A embaixada disponibilizou até os números [de telefone] para que, em caso de emergência, a gente possa contactar, nesse caso o número das autoridades chinesas. Então, temos estado em permamente contacto com a embaixada, com quem temos falado sobre como podemos ultrapassar essa fase. E tem havido muita informação".
Pelo adiantado da hora na China, não foi possível falar com nenhuma embaixada dos PALOP, mas a DW conta fazê-lo em breve.
Há na China aproximadamente 475 estudantes moçambicanos, 30 dos quais em Wuhan, perto de 500 estudantes angolanos e cerca de 350 estudantes cabo-verdianos, 16 deles em Wuhan. Quanto aos estudantes são-tomenses, não deverão ultrapassar os 200.