Corrida do ouro no Senegal: Mais riqueza, mas a que custo?
19 de janeiro de 2024A extração de ouro na região é praticada de forma artesanal por agricultores e aldeões há muitas décadas. Mas o setor da extração de ouro no Senegal cresceu muito desde 2010. Os habitantes locais abandonaram a agricultura para transformar as suas terras em pequenas minas. Depois chegaram imigrantes em grande número.
Empresas estrangeiras abriram minas industriais e semi-mecanizadas. Parte da população local viu as suas terras serem confiscadas e o seu ambiente poluído.
Um habitante que não quis dar o seu nome por medo de represálias disse à DW que a sua aldeia perdeu muitas terras com a chegada de uma empresa chinesa.
"Há quase um século que a nossa aldeia pratica a agricultura, a criação de gado e a extração de ouro nestas terras. Fazíamos tudo aqui e a empresa chinesa veio ocupar o espaço", conta.
A maior parte do ouro sai do Senegal
O mais recente relatório da agência de estatísticas senegalesa indica que a produção de ouro subiu para o equivalente a 590 milhões de euros, sem contar com as atividades mineiras informais. 90% do produto é comprado por comerciantes malianos e guineenses.
Para a poluição contribuem os milhares de litros de águas residuais, por vezes cheias de produtos químicos como o mercúrio, despejados pelas empresas mineiras.
Em consequência, os habitantes das aldeias ao longo do rio Falémé já não podem utilizar a água para o seu gado, para a agricultura vegetal ou para consumo pessoal.
A insatisfação já levou a protestos que resultaram na morte de duas pessoas perto de Khossanto.
População diz-se abandonada
Mahamadi Danfakha, diretor da estação de rádio comunitária Saraya, diz que a população local se sente abandonada, porque apesar da região ser rica em ouro, não há investimento em infraestruturas básicas.
"Para além de Saraya, nem uma única aldeia tem eletricidade. Há lugares onde não há rede telefónica e as pessoas queixam-se disso. É um desencanto, as pessoas acreditam que o governo pode resolver as situações porque são exigências muito legítimas", diz.
Amadou Sega Keita, vice-presidente do conselho departamental de Kedougou, concorda e alerta para o perigo muito real desta situação.
"Os terroristas aproveitam-se das vulnerabilidades. Se o desemprego for demasiado elevado e o Estado não conseguir satisfazer as necessidades dos jovens, o que é que vai fazer, se um terrorista com milhares de milhões de dólares tiver dinheiro para esses jovens?", questiona.
O Senegal partilha mais de 250 km de fronteira porosa e difícil de patrulhar com o Mali, onde há muitos anos se arrasta uma guerra entre grupos jihadistas e tropas governamentais.