Costa do Marfim cada vez mais tensa
29 de março de 2011As forças que apoiam Alassane Ouattara, o presidente marfinense reconhecido pela comunidade internacional e eleito em 28 de Novembro do ano passado, avançavam nesta terça-feira em direção ao Sul da Costa do Marfim. Também se aproximavam da capital econômica do país ocidental africano, Abidjan, o coração do regime do presidente cessante, Laurent Gbagbo, que não reconhece a derrota nas eleições.
Os combatentes pró-Ouattara teriam assumido o controle de Bondoukou, importante cidade no Leste da Costa do Marfim, na fronteira com o Gana, algumas horas após o início de uma ofensiva contra os militares fieis a Laurent Gbagbo.
Quem deu o pontapé inicial da ação, na segunda-feira (28/3), foram as Forças republicanas – essencialmente a ex-rebelião pró-Ouattara, que domina o Norte da Costa do Marfim desde o fracassado golpe de Estado que o veterano opositor tentou dar em 2002. A ofensiva visa a três frentes: Duékoué (oeste), Daloa (centro-oeste) e Bondoukou (leste). Duékoué fica 300 km ao norte de San Pedro, o maior porto de exportação de cacau do mundo.
De acordo com a imprensa mundial, estaria claro que os partidários de Ouattara escolheram a opção militar, quatro meses após o surgimento de violências pós-eleitorais que já mataram 460 pessoas, segundo as Nações Unidas.
A missão da ONU na Costa do Marfim também acusou forças leais a Laurent Gbagbo de terem “atirado em civis inocentes” em Abidjan, na segunda-feira (28/3). Dez pessoas teriam morrido, segundo as Nações Unidas, que condenou os atos de violência e afirmou, em comunicado, que eles “não ficariam impunes”.
País já pode estar em guerra civil, diz ONG
Os confrontos, segundo observadores ouvidos pela Deutsche Welle, ameaçam mergulhar a Costa do Marfim numa guerra civil. Cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas, e mais de cem mil marfinenses se refugiaram na também vizinha Libéria, desde o início das violências pós-eleitorais.
Especializado na prevenção e na resolução de conflitos armados, o International Crisis Group enviou no final da última semana uma carta aberta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. O texto denuncia uma urgência humanitária imediata e exorta a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, CEDEAO, a passar para a ação para proteger as populações na Costa do Marfim.
A organização não-governamental vê três cenários possíveis para a saída da crise no país da África Ocidental.
O primeiro cenário seria uma última mão estendida pela comunidade internacional a Laurent Gbagbo: se ele aceitar a vitória de Ouattara, deixaria a porta aberta a um governo de reconciliação nacional. Mas Alain Délétroz, vice-presidente do International Crisis Group, não acredita muito nessa solução. Ele diz estar mais preocupado com o segundo cenário: uma eventual divisão da Costa do Marfim em Norte e Sul.
“O terceiro cenário, que talvez esteja se desenvolvendo agora, e que também é catastrófico, é o mergulho da Costa do Marfim numa guerra civil, com o vencedor tomando a presidência do país”, alerta o representante da organização não-governamental. “Mas, se o vencedor dos confrontos for Laurent Gbagbo, ele já se tornou um pária não somente para toda a comunidade internacional, mas igualmente para os vizinhos diretos da Costa do Marfim, e para a União Africana".
Submetido a fortes pressões internacionais, a sanções ocidentais asfixiando progressivamente a economia e paralisando o nicho lucrativo do cacau, o presidente cessante, Laurent Gbagbo, está no poder desde 2000.
Apesar da possibilidade catastrófica que ele mesmo evoca, Alain Délétroz diz que as sanções econômicas decididas contra o regime de Laurent Gbagbo começam a dar frutos. Essas sanções, segundo Délétroz, poderiam desempenhar papel fundamental nas próximas semanas. “As sanções desempenharam um papel muito forte para secar os lucros de Laurent Gbagbo e para obrigá-lo a deixar o poder a partir do momento em que ele não poderá mais pagar salários. Talvez a situação até piore, porque Gbagbo está numa situação financeira extremamente difícil”, avalia Délétroz.
Na semana passada, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU decidiu formar uma comissão de investigação internacional, para apurar sobre as violências cometidas desde o escrutínio presidencial.
Autora: Renate Krieger (com agências afp/rtr e Julien Mechaussie, Berlim)
Revisão: António Rocha