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Educação

Covid-19: Como ter aulas à distância com internet precária?

31 de março de 2020

É uma forma de cumprir o isolamento social decretado pelo Governo. Muitos estudantes universitários passaram a ter aulas online. A fraca qualidade da Internet e os preços altos da ligação são os grandes problemas.

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Mosambik Universität Licungo
Na Universidade Licungo não há videoconferências e estudantes recebem livros por correio eletrónico ou redes sociais.Foto: DW/M. Mueia

Uma das instituições que está a apostar no ensino pela Internet é a Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Em teoria, os estudantes nem precisam de sair de casa, ou das suas cidades, para ter acesso às lições. É uma forma de cumprir com a regra do isolamento social e de evitar atrasos nos planos das aulas.

Mas alguns estudantes queixam-se do sinal fraco da Internet e dos preços: fazer videoconferências todos os dias sai caro. "Para nós é complicado", desabafa um estudante do curso de Engenharia Eletrónica na Universidade Eduardo Mondlane, que pediu para não ser identificado.

"Os custos financeiros é que estão a abater sobre nós. Por cada aula somos obrigados a ter mais ou menos 20 meticais (cerca de 0,30 euros) para Internet e todos os dias temos aulas. Quanto é 20x5? Contando que, por dia, são três aulas, isso sai muito caro", conta o aluno.

Baixar mensalidades para compensar despesas

Baixar as propinas seria uma opção para compensar as despesas, segundo este estudante. "Nós pagamos mensalidades e ainda procuramos recargas. Dão-nos trabalhos [de grupo], mas um está em Maputo, outro está em Nampula, na Zambézia ou em Tete... Como é que um trabalho de grupo vai ser feito assim?", questiona.

O cenário é um pouco diferente na Universidade Licungo, em Quelimane. Não há videoconferências e os estudantes têm apenas recebido os livros para leitura por correio eletrónico ou pelas redes sociais.

Mas não é a mesma coisa, diz Baloi Júnior, estudante de Sociologia. "Não estou de acordo com essa questão de se dar o texto e cada um ler e enviar fichas de leitura para o docente. Devia haver uma interação entre o docente e o estudante", sugere.

O estudante também se queixa dos trabalhos de grupo, que a seu ver não fazem sentido. "Será que, com a dimensão da doença, estamos preparados para fazer trabalhos em agrupamento? O chefe de Estado disse para não se agruparem e não saírem de casa. Mas aparecem docentes a darem trabalhos em grupo e nós temos de sair e irmos à casa de colegas que, por vezes, vivem muito longe. Então, anulemos os trabalhos em grupo e optemos por trabalhos individuais", argumenta.

Ricardo Raboco
Professor Ricardo RabocoFoto: DW/M. Mueia

Internet lenta e custos

Fazer esses trabalhos pela Internet também seria complicado. Mais uma vez, há os problemas da má ligação e dos custos.

"Como medida preventiva, é importante até certo ponto, mas do ponto de vista da continuação das atividades letivas por outras vias, para além das tradicionais, vai ser muito difícil para as universidades moçambicanas", afirma o professor Ricardo Raboco, que não é apologista da introdução de aulas virtuais nas universidades, porque, segundo explica, Moçambique não está preparado tecnologicamente para isso.

Primeiro, a avaliar pela qualidade de Internet, "que não é das melhores", sublinha o docente. Além disso, acrescenta, "há muito poucas universidades públicas em Moçambique onde podemos ter um ponto de acesso à Internet para acompanhar todo o processo de ensino e aprendizagem por esta via. Não será no âmbito da Covid-19 que o uso das tecnologias de informação e comunicação na universidade vai passar a ser um elemento estruturante."

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