Covid-19: O drama dos mais desfavorecidos no Huambo
19 de novembro de 2020Lineu António tem 49 anos e é pai de 8 filhos. Com uma deficiência física na perna direita desde a infância, após um surto de sarampo, sobrevive da atividade de sapateiro.
Por estes dias, com as restrições da Covid-19 a abrandar muitos setores da sociedade em Angola, o trabalho é pouco e as necessidades familiares são muitas. "Não temos nada", afirma.
Sem uma fonte fixa de rendimento, o trabalho "tem ajudado", mas não chega: "Vamos ver como que é que as coisas vão ficar, para ver se a pessoa melhora. O Governo não está a apoiar e estamos assim, a depender a atividade de sapateiro, senão as crianças não comem nada".
Teresa Chilembo, de 50 anos, também enfrenta enormes dificuldades em tempos de pandemia. A explosão de uma mina anti-pessoal durante a guerra civil deixou-a com uma deficiência nos dois membros inferiores.
Sem apoio familiar, Teresa procura a solidariedade das pessoas nas ruas da cidade do Huambo. Tem fome e faltam apoios. "Estou a sofrer muito, porque não tenho nada para comer e estou a pedir esmola. Às vezes consigo quinhentos, ou quatrocentos [kwanzas] para comprar fuba", conta.
De mãos atadas
Ouvida pela DW África, a coordenadora da Associação Angolana de Cegos e Amblíopes (ANCA), no Huambo, Claudete Marta Capapelo, diz que todos os dias mais de uma dezena de membros dirigem-se à associação em busca de apoios. Mas a ANCA está de mão atadas.
"Muitos [pedidos de ajuda]. Dez a doze pessoas por dia, mas nós também não temos nada para dar. Comunicamos e pedimos apoios via rádio mas até agora não recebemos nada", explica, em entrevista à DW África.
Apesar disso, a associação continua a tentar ajudar os seus filiados. Tem tido contactos com várias entidades governamentais no sentido de captar apoios no âmbito dos vários programas de ajuda em execução no país: "Há o programa de combate à fome e à pobreza, mas ainda não fomos abrangidos. Temos encaminhado alguns programas à direcção da Ação Social, mas até ao momento ainda não fomos chamados, não fomos atendidos e estamos a aguardar", afirma Claudete Capapelo.
A DW tentou, sem sucesso, ouvir o gabinete provincial de Ação Social, Família e Igualdade do Género, para se pronunciar sobre o assunto.