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Covid-19: Qual é o limite do sistema de saúde de Angola?

6 de abril de 2020

OMS estima que Angola poderá ter cerca de 10 mil casos até julho. Enfermeiros e médicos ouvidos pela DW África dizem que o sistema de saúde é limitado para esse volume de infeções e pode entrar em colapso.

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Angola Kwanza Norte | Coronakrise in Ndalatando: Mediziner arbeiten ohne Schutz während der Coronakrise
Foto: DW/A. Domingos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê cerca de 10 mil infeções em Angola até julho. Um enfermeiro ouvido pela DW África – que prefere não ser identificado na reportagem – diz que o serviço nacional de saúde não está preparado para fazer face a pandemia.

"Há insuficiência de material gastável e não só. Também ainda há falta de treinamento das equipas para dar resposta a pandemia”, afirma.

No último final de semana, um pedido doações feito pelo Governo gerou polémica em Angola. 

A Pandemia da covid-19 apanhou todos países praticamente desprevenidos. Mesmo a ministra da Saúde de Angola, Sílvia Lutucuta, reconhece que o país também não está preparado para uma eventual contaminação comunitária do vírus.

"Nenhum país está preparado para o pior, e nós estamos a tomar medidas para que o pior cenário não chegue ao nosso país”, esclarece Lutucuta.

O médico e deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Maurílio Luiele, concorda com o "fator surpresa” salientado pela ministra. Para o parlamentar, o que se passa em Nova York, nos Estados Unidos, seria um exemplo disso. "Os países têm que envidar esforços para estar a altura. No nosso caso, é preciso considerar que partimos de uma base bastante fragilizada”, considera Luiele.

Angola | Ausnahmezustand wegen Corona
Como outros países, distanciamento social é um desafio em AngolaFoto: DW/P. Borralho

Apoio diplomático

Analistas e cidadãos consideram a estrutura sanitária do país bastante débil. Para além da escassez de hospitais, centros de saúde, material técnico e humano, também há problemas de recursos financeiros. 

Segundo Lutucuta, uma das medidas que estão a ser tomadas é a aquisição de mais ventiladores para os aparelhos médicos de oxigênio. As autoridades sanitárias também receberão médicos cubanos e decorre uma formação técnica para o uso de ventiladores e outros itens.

"A esta altura, já não estamos a diferencia setor público e privado [de saúde]. Estão já em requisição 38 ventiladores para apoiar o país todo e reforçar os existentes. A competição ao nível internacional [para aquisição de ventiladores] é muito grande, mas nós estamos a ter o apoio direto por via diplomática do governo chinês”.

A população queixa-se de falta de luvas, máscaras e outro material de biossegurança. Muitos socorrem-se de máscaras feitas com panos. O ministro do Comércio Víctor Fernando garante que não há rutura de estoque destes meios, apesar de os itens não estarem disponível como estariam em situação normal.

"Os operadores continuam a trabalhar. Não temos qualquer informação sobre quebra de estoque. Agora, é óbvio que estamos mais atentos e atuantes quanto a alguma eventualidade de especulação ao nível dos preços. Não vamos permitir isso ao nível das farmácias nem nos bens alimentares”.

Südafrika Lockdown Ausgangssperre
Quarentena é observada em vários países da África AustralFoto: AFP/M. Longari

Gastos não controlam infeções

O Governo angolano já deslocou 4,5 mil milhões de kwanzas (o equivalente a 8,3 milhões de euros) para a prevenção do Covid-19. Ainda assim, os números de infeções continuam a subir. Entre as mais de dez pessoas infetadas está uma criança de apenas um ano.

O parlamentar da UNITA, Maurílio Luiele, sugere que o melhor mesmo é ficar em casa e observar o distanciamento social.  "Todos estamos a ver que a infeção pela Covid-19 tem uma velocidade de propagação muito alta, mas pode ser mitigada com estas medidas de prevenção”, alerta.

Apesar de não se saber exatamente o fim da pandemia, o mundo já pensa nos seus efeitos para a economia e outras áreas. Luiele, que também é mestre em biociências, não tem dúvidas de que o Estado angolano terá de apostar mais nas Ciências Médicas.

"A partir desta crise da Covid-19, tomem consciência da importância do papel das ciências [para a intervenção] nestas crises e no impulsionamento do desenvolvimento do país. Os países que vão sair desta mais fortalecidos são, sem dúvidas, aqueles que investem em ciência”, considera o político.