CPLP aposta em maior integração económica tricontinental
26 de junho de 2013O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, defende o incremento de relações triangulares entre África, Europa e América Latina, espaços onde está representada a maioria dos Estados lusófonos. A proposta de Murargy surgiu no âmbito do Fórum Político do Estoril, que termina neste dia 26 de junho, e onde se debate, desde segunda-feira, o futuro da União Europeia.
Numa Europa confrontada com uma forte recessão económica, o executivo da CPLP propõe o aproveitamento do potencial deste triângulo para evitar que a crise se estenda aos países emergentes ou em desenvolvimento, Como aconteceu, por exemplo, com a economia cabo-verdiana, que volta a contrair este ano. Murgarty, considera que a estratégia de reforço do triângulo Europa-África-América Latina, pode ser uma grande oportunidade para o crescimento e desenvolvimento das três regiões onde a Comunidade lusófona tem sete dos seus oito membros: “Há que trabalhar com uma visão estratégica”.
Estabilidade política é crucial
Tanto mais, que a África é um “continente em ascensão”, como realçou Murade Murargy num painel dedicado ao tema. Mas, ressalvou, “a estabilidade política é crucial para que África possa prosseguir na senda do crescimento significativo que tem registado nos últimos 15 anos”. Murargy disse ainda que o principal desafio a curto prazo para o continente africano prende-se com a consolidação da estabilidade macro-económica, de forma a facilitar o acesso aos serviços públicos, educação, saúde e segurança: “Desta forma, os países africanos poderão de taxas de crescimento sustentadas, e redução da pobreza e desigualdade, melhorando os seus índices de desenvolvimento humano”.
África ainda tem alguns países frágeis. Mas, apesar de um longo caminho ainda a fazer, a economia africana subsariana registou em 2012 uma retoma robusta de 6,6%, contra os 5,2% em 2011. Mesmo num contexto de contração do consumo mundial, estima-se que o produto interno bruto do continente cresça cerca de 4,8%, em 2013, e 5,3% no próximo ano, como deu conta Murargy, na sua intervenção, referindo ainda que o maior investimento a fazer no continente deverá incidir sobretudo no capital humano. Estima-se que, em 2040, África terá a maior reserva de mão de obra do planeta.
O crescimento deve beneficiar a população
A noção de um continente em ascensão é amplamente partilhada, mas há ressalvas, como as apontadas por Martins Laita, vice-reitor da Universidade Católica de Moçambique. Laita disse, entrevista à DW, que a ascensão do continente se processa a velocidades divergentes: “Há países que estão de facto a ascender, há outros que estão, de facto, a voltar para trás. Mas o importante é que há esperança e uma grande descoberta de recursos naturais e um fluxo de investimento direto estrangeiro. O que resta é capitalizarmos esses movimentos todos e garantir que os frutos desses investimentos e da exploração desses recursos beneficiem o povo”.
Martins Laita considera que falta mais união e espírito de entreajuda, e questiona o papel da União Africana, na qual deposita alguma esperança.
A economia, não foi, no entanto, o único tema na agenda deste fórum. Sem esconder a preocupação, a CPLP segue atenta “mas serena” a situação tensa que se vive em Moçambique nas últimas semanas. O seu secretário executivo assegurou que a organização não foi chamada a intervir, acreditando que os moçambicanos têm maturidade suficiente para resolver as desavenças que opõem o Governo e a RENAMO, principal partido da oposição, dirigido por Afonso Dhlakama: “O Governo moçambicano vai-nos convocar para dizer se há alguma necessidade de se convocar uma reunião, mas, neste momento ainda não se justifica, disse Murargy à DW África.
Moçambique e Guiné-Bissau preocupam a CPLP
Quanto à Guiné-Bissau, outra preocupação constante da CPLP, aquele diplomata moçambicano confirmou à DW África que as organizações internacionais parceiras daquele país, igualmente interessadas na paz e estabilidade, realizam uma missão proximamente para avaliar os apoios face ao compromisso de realização de eleições democráticas ainda este ano.