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Os dilemas do crescimento sustentável em Moçambique

Francisca Bischo24 de abril de 2013

A tartaruga marinha é uma das espécies ameaçadas pela construção dum porto de águas profundas na Ponta de Techobanine, avisam os ambientalistas em Moçambique. E que não se deve descurar o desenvolvimento sustentável.

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Tartaruga marinhaFoto: picture-alliance/dpa

O Governo moçambicano anunciou a concessão de construção de um porto de águas profundas na Ponta de Techobanine, em Moçambique. Uma obra que, segundo elementos governamentais, vai trazer importantes benefícios à região. Mas os ambientalistas alertam para riscos para a flora e fauna marítima e sugerem que seja encontrada uma zona alternativa para a construção do porto, para proteger as espécies e ecossistemas.

Os benefícios, segundo o Governo

A construção do porto de águas profundas na Ponta de Techobanine, cerca de 60 quilómetros de Maputo, foi anunciada na terceira Conferência Anual do Porto de Maputo pelo primeiro-ministro moçambicano, Alberto Vaquina. No valor de cinco mil milhões de euros, o projeto, que já tinha sido pré-anunciado em 2010, inclui ainda a construção de uma via-férrea que liga o Botsuana a Moçambique, numa extensão de 1.100 quilómetros. Com a construção das duas infraestruturas, que deverão estar concluídas em 2016, pretende-se criar condições à exportação de minerais oriundos do Botsuana, e mais tarde, também provenientes da África do Sul e do Zimbabué.

O porto da Beira, em Moçambique
O porto da Beira, em MoçambiqueFoto: Reuters

O Ministério afirma que a obra vai trazer rentabilidade. Segundo a agência portuguesa de notícias, Lusa, o primeiro-ministro afirmou ainda que "a implantação do Porto de Techobanine, constitui um desafio ao setor de Educação, particularmente no ensino técnico profissional, que deverá assegurar a formação de quadros para integrar o setor portuário.

Os riscos, segundo os ambientalistas

Mas se este anúncio parece ser favorável à criação de postos de trabalho, ele traz também graves problemas à vida marítima da zona. Quem o afirma é Marcos Pereira, biólogo marinho, que fala das espécies ameaçadas que estão em risco com a construção: “Esta é a zona mais importante para as tartarugas marinhas no país. Depois disso, temos o maior recife de coral, no sul de Moçambique, que também está exatamente onde vai ser feito o porto. Portanto, vai ter que ser destruído o recife para fazer o canal para passar os navios e é dos ecossistemas mais produtivos do sul do país” Acresce, como diz o ativista, “as dunas mais altas do sul do país”, todo um pacote de ecossistemas e espécies que justificam proteção.
Com a execução da obra vão ser colocadas em risco duas áreas de conservação. Uma, é a própria zona marinha onde as obras decorrerão, a outra é uma área de sobreposição com a Reserva Especial de Maputo, habitat de muitas espécies, nomeadamente elefantes. Segundo Carlos Serra, jurista ambiental, o fator económico não pode ser colocado à frente de tudo o resto, há que: “Olhar também para as alternativas”. O especialista diz que não se trata de excluir a zona escolhida logo à partida, mas é preciso ter em conta que esta não é uma área qualquer: “É única no mundo, na região e em Moçambique. Espero que este desenho das alternativas em termos da localização seja muito bem feito na avaliação ambiental”.

Também em Moçambique, os elefantes estão ameaçados
Também em Moçambique, os elefantes estão ameaçadosFoto: Getty Images

Sociedade civil excluída do debate

Os ambientalistas reclamam o facto de não estarem incluídos no debate político e receiam pela capacidade de Moçambique de se desenvolver de um modo sustentável. Carlos Serra diz que as prioridades estão desajustadas: “Não podemos falar, pelo menos na prática, de um desenvolvimento sustentável. Nós temos isso na nossa Constituição, que até é bastante evoluída nesse aspeto. Ela consagra o princípio, mas na prática e na tomada de decisões que é feita, ainda não conseguimos implementar este princípio. Portanto, o pilar económico prevalece quase sempre sob os demais pilares”.

Os dilemas do crescimento sustentável em Moçambique

Para o biólogo Marcos Pereira, a urgência conferida ao desenvolvimento, não permite alcançar as metas ambientais necessárias: “Estamos a assistir a uma corrida tão acelerada, que não temos tempo sequer para pensar em todas as etapas daquilo que seria o desenvolvimento sustentável”

A DW África, tentou entrar em contacto com a Fiscalização Costeira Nacional, mas não obteve nenhuma declaração.


Meeresschildkröte in Thailand
Foto: picture-alliance/Vitaliy Ankov/RIA Novosti