Crianças angolanas em tratamento médico na Alemanha
10 de janeiro de 2013
"Danke, Bitte, es tut mir Leid", são as primeiras palavras em alemão, para o pequeno angolano Cristopher Yava Miezi. Elas significam em Português, obrigado, por favor e desculpa.
Ele ainda se lembra dos primeiros sintomas da inflamação óssea que o impediu de andar, quando estava em Luanda, capital angolana: "Só sei que foi na escola, na hora do intervalo já não conseguia levantar-me. Senti uma dor na perna e depois chamaram o meu pai e levaram-me ao hospital. Depois a perna começou a inflamar."
Apesar do esforço dos médicos angolanos, não foi possível curar a inflamação crónica no osso da perna direita.
Por isso, o menino de 11 anos foi trazido para a Alemanha pela organização não governamental Friedensdorf International, que há mais de 40 anos providencia tratamento médico para crianças provenientes de regiões de crise.
Alemanha é o último recurso
Christian Heisig, diretor do escritório da organização em Berlim, relata: "Não se podia fazer mais nada por ele. Então, essas crianças nos são apresentadas, conversamos com os médicos no local e com os pais das crianças que também precisam de concordar. Então, trazemos as crianças para Alemanha para serem tratadas."
Aqui na Alemanha os pequenos vão para hospitais ou clínicas que tenham equipamentos e profissionais especializados, de acordo com o caso.
Andreas Widera, médico-chefe do departamento para medicina Pediátrica e Adolescente da clínica Helios, de Bad Saarow em Brandemburgo, onde Cristopher está internado.
Ele conta que o menino passou por três cirurgias e muitos procedimentos para recompor 20 centímetros de osso: "Ele recebe um antibiótico muito caro para garantir que as cirurgias de reconstrução que fizemos tenham bons resultados."
Ainda de acordo com Widera enquanto isso, ele precisa de acompanhamento médico intensivo, mas está muito bem, e conclui: "Ele movimenta-se numa cadeira de rodas ou com muletas e assimilou tudo muito rápido."
O tratamento compensa a saudade da família
Cristopher é uma das 101 crianças angolanas que chegaram ao país num vôo fretado em novembro passado, mas crianças de outras 10 nacionalidades também se encontram na Alemanha para tratamento médico, porque não tiveram a mesma chance nos países de origem.
Segundo Christian Heisig, devido à gravidade dos casos, os pacientes passam cerca de seis meses aqui na Alemanha.
Ao saírem do hospital, vão para a sede da Friedensdorf International, em Oberhausen: "As crianças vêm para Friedensdorf receber atendimento ambulatório e fazer ginástica terapeutica. Elas estão entre si, ajudam-se mutuamente e preparam-se para voltar para casa."
Para quem recebe a chance da cura, como o angolano Cristopher Yava Miezi, apesar da distância de casa e da saudade da família, a avaliação é positiva.
Sozinho, ele enfrenta com coragem e maturidade o desafio: "É bom para a minha saúde, faz-me bem. Gosto, com as operações, eles cozeram as feridas e está tudo bem."
Os médicos ainda não sabem ao certo até quando Cristopher ficará na Alemanha. Em maio, muitas crianças angolanas devem voltar para casa e uma nova leva de meninos e meninas será trazida para tratamento médico.
Autora: Cristiane Teixeira Vieira (Berlim)
Edição: Nádia Issufo / António Rocha