Crise afeta portugueses em Angola e angolanos em Portugal
9 de abril de 2015Há 70 mil portugueses a trabalhar no setor da construção civil em Angola. Muitos trabalhadores estão há já alguns meses com salários em atraso, por falta de liquidez das respetivas empresas, denuncia o Sindicato da Construção de Portugal.
"Há cerca de dois mil trabalhadores que têm salários em atraso. A situação tende a agravar-se", reclama Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção. Se o Governo angolano não relançar obras, alerta o sindicalista, poderão mesmo regressar a Portugal dez mil trabalhadores.
De acordo com o Sindicato, muitos destes trabalhadores vivem em contentores em condições precárias, em situação que rotula de "escravatura contemporânea".
As respetivas famílias em Portugal têm ligado aflitas para Albano Ribeiro, lamentando que não têm dinheiro para dar de comer aos filhos nem para pagar a água, a luz e a renda de casa. O dirigente sindical aponta como uma das origens do problema a desaceleração do investimento em Angola, que levou à paralisação de muitas obras.
Lisboa desdramatiza situação
No início desta semana, o presidente do referido sindicato pediu outra audiência urgente com o embaixador de Angola em Lisboa, Marcos Barrica, para uma solução célere do problema.
No início deste mês, o Governo português, por intermédio do ministro da Economia, Pires de Lima, garantiu que está a par da ocorrência e desdramatizou a situação. "Até ao momento não há uma avalanche de regressos nem de fecho de atividades empresariais portuguesas em Angola".
Uma fonte da DW África em Luanda contraria o otimismo do Executivo de Lisboa e reafirma existirem muitas dificuldades por parte das empresas, que estão a atingir os trabalhadores portugueses.
Estudantes angolanos em dificuldades
Também em Portugal há estudantes angolanos, sem bolsas do Estado, que estão a passar por sérias dificuldades por causa dos bloqueios dos últimos três meses às transferências de divisas de Luanda para Lisboa.
Simão Baltazar frequenta o curso de gestão de empresas na Universidade Lusófona. Paga os estudos com as remessas que os familiares lhe enviam de Angola. Como estuda por conta própria, contrariamente aos conterrâneos que beneficiam de uma bolsa do Estado angolano, sofre as consequências dos atrasos nas transferências de dinheiro de Angola para Portugal.
Entre outras despesas – já lá vão dois meses –, não consegue pagar as propinas na data estipulada, o que lhe tem causado muitos transtornos. "A vida aqui fica meio difícil. Tenho de fazer compras de alimentação, pagar o passe, além de ter outras despesas com a universidade, como material para trabalhos do curso", conta.
Além disso, Simão Baltazar tem que pagar a renda da casa onde reside. "Tenho de estar sempre a conversar com o proprietário da casa para ver se o consigo sensibilizar e fazer com que perceba, porque ele também está atento aos problemas que estamos a passar em Luanda".
O jovem angolano confirma a existência de vários outros casos de estudantes que estão na mesma situação. Tem conseguido minimizar as dificuldades com ajuda de terceiros e espera que o problema das transferências seja resolvido o mais rápido possível.