Crise na Ucrânia: Alemanha suspende gasoduto Nord Stream 2
22 de fevereiro de 2022Segundo afirmou o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, nesta terça-feira (22.02), "no contexto do conflito crescente entre a Rússia e a Ucrânia, o Governo alemão vai suspender o processo de aprovação do gasoduto russo-alemão Nord Stream 2 até novo aviso", disse o chanceler.
O gasoduto controlado pelo gigante energético russo Gazprom, já concluído e construído com a participação de empresas alemãs, destina-se a transportar gás diretamente da Rússia para a União Europeia (UE) através da Alemanha, evitando assim a travessia pela Ucrânia, como acontece atualmente.
"Não pode haver certificação" das infraestruturas, afirmou Scholz aos jornalistas em Berlim, acrescentando que "a situação mudou" na sequência do reconhecimento por Moscovo das autoproclamadas repúblicas pró-russas da região de Dombás.
Reações
O Presidente russo Vladimir Putin ordenou ao seu Ministério da Defesa o envio de tropas russas de manutenção da paz para as duas regiões separatistas do leste da Ucrânia depois de anunciar o reconhecimento da independência de Donetsk e Lugansk, territórios separatistas pró-Rússia na Ucrânia.
Putin assinou dois decretos em que pede que "as Forças Armadas da Rússia [assumam] as funções de manutenção da paz no território" das "repúblicas populares" de Donetsk e Lugansk.
Em resposta, durante um encontro do Conselho de Segurança da ONU, a embaixadora norte-americana Linda Thomas-Greenfield acusou a Rússia de "violar o direito internacional". A diplomata criticou ainda a afirmação de Putin de que as tropas estavam numa missão de "manutenção da paz".
"Ele [Putin] chama-lhes forças de manutenção da paz, mas isto é um disparate. Sabemos o que realmente são", afirmou Thomas-Greenfield. "As consequências das ações da Rússia serão terríveis, na Ucrânia, na Europa e no globo."
O Reino Unido anunciou nesta tarde sanções contra cinco bancos russos e três oligarcas multimilionários - Gennady Timchenko, Boris Rotenberg e o sobrinho deste último, Igor Rotenberg -, próximos do Presidente russo, Vladimir Putin, em retaliação ao reconhecimento de Moscovo das regiões separatistas no leste ucraniano.
Também o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que cancelou a visita à Guiné-Bissau, prevista para quarta-feira, devido à crise na Ucrânia, considerou a decisão da Rússia como "inaceitável" e apelou ao respeito da lei internacional.
As Nações Unidas qualificaram a situação na Ucrânia como "muito volátil", apelando a todas as partes envolvidas que se abstenham de atacar civis.
Sanções para "atingir e muito"
Esta tarde, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, anunciou a aprovação por unanimidade entre os 27 Estados-membros da UE de um pacote de sanções à Rússia, visando "atingir e muito" as autoridades russas, após o reconhecimento dos territórios separatistas no leste ucraniano.
As sanções aprovadas abrangem 27 indivíduos e entidades e 350 membros da câmara baixa do Parlamento russo (Duma). No que toca às sanções financeiras, preveem-se restrições às relações económicas da UE com as duas regiões separatistas, de Donetsk e Lugansk, bem como o congelamento de bens de dois bancos privados russos, especificou Borrell.
"Estamos a visar a capacidade do Estado e do Governo russo para aceder aos nossos mercados e serviços financeiros e de capitais, limitando o financiamento das suas políticas através da limitação do acesso aos mercados financeiros", adiantou.
O Presidente russo Vladimir Putin não faz parte da lista de sancionados pela UE, já que esta "quer ter algumas medidas de reserva".
Em relação ao bloqueio do gasoduto Nord Stream 2, o chanceler alemão Olaf Scholz admitiu que atualmente o gás corresponde a um quarto do "bolo energético" da Alemanha, e metade deste provém da Rússia, sendo que a decisão de impedir a entrada em funcionamento do Nord Stream 2 terá consequências para o fornecimento do país.
Contudo, Scholz acrescentou que o debate sobre "diversificação" das fontes de abastecimento energético já começou no país, aludindo ao facto de na Alemanha aumentar cada vez mais a importância das energias renováveis, como o vento, a energia solar e o hidrogénio verde. O chanceler frisou que esse debate passa a ser também uma "tarefa europeia" face à nova situação criada pela Rússia.