Crise política guineense "cansa" comunidade internacional
26 de agosto de 2020Mesmo com a mediação da comunidade internacional, a Guiné-Bissau tem vivido longa e permanente instabilidade política e governativa. Em fevereiro deste ano, o país mergulhou numa nova crise depois das eleições presidenciais e com a tomada de posse simbólica de Umaro Sissoco Embaló.
Em meio a um contencioso eleitoral, o então candidato do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G-15) foi dado como vencedor da segunda volta do pleito pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) - que tem mediado esta crise política - é acusada de imparcialidade acusada de imparcialidade. O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) afirma que alguns dos chefes de Estado da CEDEAO "tentam impor as suas agendas na Guiné-Bissau contra a vontade do povo guineense".
O analista político Rui Landim também considera que há "interferências externas" na Guiné-Bissau, que resultam do "fracasso" da comunidade internacional na resolução da crise política.
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Quando há fracasso, entra a interferência. Também há aproveitamento para alguém poder tomar conta da coisa. Quando há fracasso [da comunidade internacional] de quem deve organizar e [faz] entrar essa interferência com outras intenções, onde se procura encontrar outros interesses obscuros e inconfessos", avalia Landim.
Agradar gregos e troianos
O professor de Relações Internacionais Fernando Mandinga da Fonseca lembra que o Governo guineense foi reconhecido pela CEDEAO embora continue a ser contestado pelos opositores que, por sua vez, chamam a atenção para o facto de o contencioso eleitoral ainda não ter sido resolvido.
Para o Fonseca, a aceitação de Sissoco Embaló como Presidente é um exemplo de interferência internacional nos assuntos domésticos da Guiné-Bissau.
"Um dos candidatos decidiu autoproclamar-se Presidente da República. Houve missões diplomáticas de alguns países da nossa sub-região, que a priori legitimaram essa posição. Do ponto de vista diplomático, isso é um equívoco. Porque há instituições democráticas que têm a responsabilidade de decidir quem é ou não Presidente da República", classifica.
Landim reconhece, por outro lado, um certo cansaço da comunidade internacional na resolução das cíclicas crises políticas guineenses.
"Aquilo que se vê é mais um sinal de cansaço da comunidade internacional, que ao invés de enfrentar a situação com realismo, trata de encontrar as soluções que sejam adequadas. Optou-se sempre pelas soluções para agradar a gregos e a troianos, e estamos nesta situação que estamos".