Escolas não têm materiais para o ensino especialidado
3 de dezembro de 2021Na província do Cuando Cubango há apenas duas escolas de formação especial, ambas localizadas em Menongue, o que coloca muitos alunos com necessidades especiais fora do ensino, segundo explica à DW África Artur dos Santos, diretor pedagógico do complexo escolar de inclusão Mwene Tchicomba.
Segundo dos Santos, a escola conta com apenas seis professores especializados e um professor formado especificamente para atender 104 alunos com necessidades educativas especiais.
"Trabalhar nesta área é difícil", diz dos Santos, e pede: "Precisamos de apoio".
Segundo o diretor, outro obstáculo para a continuidade do ensino dester crianças prende-se com a falta de transporte para os alunos.
Artur dos Santos acrescenta que muitos alunos que conseguem terminar o primeiro ciclo - a 9ª classe - "são abandonados, porque não têm onde dar continuidade aos estudos".
Para colmatar este défice alguns pais e encarregados de educação que têm possibilidades económicas enviam os seus filhos para as províncias da Huila e Benguela. Mas "os outros são entregues à sua sorte", lamenta o diretor.
Governo reconhece as dificuldades
Miguel Kahime, diretor do gabinete provincial da Educação, Ciência e Tecnologia no Cuando Cubango, reconhece as dificuldades por que passam as crianças com necessidades especiais; mas nega que alunos com deficiência visual abandonem a formação académica por falta de material de ensino em braille.
"Tem material suficiente em todos os centros de recursos nas ZAPES", afimrou Kahime à DW África, negando ainda que haja falta de professores para os alunos com necessidades especiais.
"Temos professores para cada área do ensino especial nas duas escolas que começaram com ensino especial na província do Cuando Cubango", apontou o governante.
Questionado quanto às razões de existirem escolas especiais apenas em Menongue e não nos restantes oito municípios da província, apesar de promessas feitas neste sentido em 2014, Kahime explicou: "Nós fizemos um levantamento ao nível de todos os municípios, e os dados que nos foram apresentados não justificavam uma turma ou a criação de uma escola nos municípios para além de Menongue”.
Estado de abandono
Os professores da Escola da Igreja Evangélica Congregacional de Angola (IECA) contrariam as afirmações do responsável provincial da educação.
Lucas Tchata, de 64 anos, professor na especialidade há 31 anos, dos quais 13 na IECA lamenta o abandono de que são alvo as escolas pelo governo provincial.
"Neste preciso momento só tenho quatro alunos; mas o efetivo geral de alunos do ensino especial visual são 21”, contou o educador à DW África, apontando a falta de material e transporte como as principais razões do abandono do ensino.
"Desde 2008 até aqui eu só levo meus alunos até a 8ª classe. Agora como prosseguir?”, perguntou Tchata.
O professor, ele próprio deficiente visual, pede o apoio do governo provincial para que os seus alunos consigam completar o ensino escolar.