Cuidado com os espiões no Mundial da Rússia
15 de maio de 2018Funcionários da Renânia do Norte-Vestfália (NRW), o estado mais populoso da Alemanha, podem tornar-se vítimas de espionagem durante o Mundial de Futebol de 2018, que arranca a 14 de junho na Rússia. O alerta foi feito em finais de fevereiro pelo Ministério do Interior do estado, que avisa que até aparelhos eletrónicos particulares poderão ser afetados.
"Recomenda-se, portanto, que não levem aparelhos eletrónicos nem smartphones privados", lê-se nos alertas de segurança do Ministério a propósito de viagens privadas à Rússia para o Mundial de 2018.
Segundo a imprensa local, o administrador municipal da cidade de Mülheim an der Ruhr, Frank Steinfort, por exemplo, já aconselhou os seus funcionários, por e-mail, a substituir os smartphones com acesso à Internet por um simples telemóvel enquanto estiverem na Rússia.
A DW contactou a administração da cidade, que não quis comentar o assunto e remeteu declarações para o Ministério do Interior da Renânia do Norte-Vestfália.
Rússia na lista de países de risco
Já houve incidentes no passado com pessoas que viajaram para a Turquia e para a Rússia e que viram os seus telemóveis ser apreendidos. Pouco depois, os telefones foram devolvidos, mas entretanto descobriu-se que parte da informação contida nos dispositivos tinha sido lida.
"Acho que em outubro passado publicamos conselhos de viagem para a Turquia e para a Rússia, porque tinha havido esses incidentes", disse o porta-voz do Ministério do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, Tobias Dunkel, em entrevista à DW.
Aliás, a Rússia está na lista alemã dos 30 países de risco. A lista é criada com a participação de diplomatas, funcionários do Serviço Federal de Inteligência (BND), do Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BFV) e do Serviço de Contra-inteligência Militar (MAD).
Sempre que viajam para esses países, alguns funcionários que têm acesso a segredos de Estado têm de informar os seus supervisores sobre os seus planos de viagem.
No Mundial só com "Fan ID"
Outro motivo para as instruções de segurança do Ministério do Interior de NRW é o modo como é atribuído o "Fan ID", documento entregue a quem compra bilhetes para assistir aos jogos na Rússia.
O chamado "passaporte do adepto" foi testado pela primeira vez na Taça das Confederações disputada em 2017 na Rússia. Com o "Fan ID", os adeptos podem assistir a jogos, obter bilhetes de comboio gratuitos para viajar entre as cidades onde há partidas de futebol e usar os transportes públicos da cidade em dias de jogos.
Mas mais importante para os estrangeiros é que com o "passaporte do adepto" podem entrar na Federação Russa sem visto. E são muitas as informações que é preciso fornecer para pedir o "Fan ID", sublinha-se nos alertas de segurança para viagens privadas à Rússia durante o Mundial.
Quando solicitam o documento, os adeptos têm de concordar com o processamento dos seus dados pessoais, que serão depois verificados pelas autoridades russas. Dados como o primeiro e último nome, aniversário, sexo, informações sobre o bilhete de identidade, nacionalidade, número de telemóvel, endereço de e-mail e morada para entrega do cartão personalizado, além de uma fotografia.
Conselhos de segurança em todo o país?
A divulgação desses dados terá depois de ser aprovada pelo requerente na Internet, com um símbolo de verificação. Mas a maioria das pessoas não costuma ler os longos termos e condições.
Por isso, o Ministério do Interior da Renânia do Norte-Vestfália decidiu consciencializar os seus funcionários e emitir as suas próprias instruções de segurança. "Porque geralmente nem todas as pessoas se preocupam muito com isso, mas depois até se podem interrogar onde terão ido parar os seus dados", explica Tobias Dunkel, da assessoria de imprensa do Ministério.
As notas de segurança interna também avisam que é proibido o uso de endereços oficiais de e-mail, de números de telemóveis de trabalho e da morada do serviço para solicitar o "Fan ID".
Ainda não está claro se haverá avisos de segurança semelhantes a nível federal. Contactado pela DW, o Ministério do Interior da Alemanha ainda não respondeu a esta questão.