Deportação de refugiados sírios volta ao debate na Alemanha
5 de setembro de 2024Devem os sírios condenados por crimes na Alemanha ser deportados para a Síria? A questão voltou ao debate depois do esfaqueamento ocorrido a 3 de agosto na cidade de Solingen, no qual um extremista sírio matou três pessoas, levando o governo do chanceler Olaf Scholz a anunciar novas medidas para facilitar as deportações de criminosos.
Além disso, o triunfo do partido político de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) extrema-direita nas eleições de domingo passado nos estados da Saxónia e da Turíngia também tem alimentado o debate.
Mas qual é atualmente a situação na Síria?
Síria dividida em quatro territórios
A Síria está dividida em quatro territórios diferentes. A maior parte - cerca de 60% - é controlada pelo regime do Presidente Bashar al-Assad.
Nenhuma das quatro regiões oferece segurança, sublinha o politólogo André Bank, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA).
"A situação na zona controlada pelo regime é extremamente precária do ponto de vista económico. A nível político, continua a caraterizar-se pela persistência da ditadura. Continuamos a assistir ao desaparecimento de membros da oposição. Naturalmente, não há forma de a população se expressar de forma independente", explica o politólogo, que é co-autor de um estudo publicado recentemente sobre a situação de segurança na Síria.
"Um dos regimes mais repressivos do mundo"
De acordo com esse estudo, cerca de 9,6 milhões de pessoas vivem na parte do país governada por Assad, "um dos regimes mais repressivos do mundo".
Há casos conhecidos de sírios deportados do Líbano que desapareceram sem deixar rasto, depois de terem atravessado a fronteira com a Síria, afirma em entrevista à DW o especialista em Médio Oriente Carsten Wieland.
"Foram provavelmente detidos por um dos serviços secretos e possivelmente torturados ou mesmo mortos", conta.
O facto de muitos refugiados preferirem viver em condições miseráveis em campos de refugiados no Líbano ou na Jordânia, em vez de regressarem a casa, é sinal de que não se sentem seguros no seu país, diz o especialista.
O cenário de insegurança repete-se em todas as regiões da Síria, nomeadamente no noroeste, na região de Idlib, controlada pela organização radical islâmica Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Das cerca de três milhões de pessoas que vivem na região, mais de um milhão são deslocados internos.
Resistir pode pôr vidas em risco
Quase todos os deslocados dependem da ajuda humanitária fornecida pelas Nações Unidas e mais de 80% não têm acesso a água potável e ao saneamento básico, é referido no documento do GIGA.
Algumas partes de Idlib, no sul e no leste, também são frequentemente alvo de ataques aéreos russos. O governo russo começou a apoiar o regime de Assad em 2015, durante a guerra civil do país.
Desde o início do atual conflito na Faixa de Gaza, os ataques aéreos russos a Idlib aumentaram e, de acordo com o GIGA, cerca de 16.000 pessoas foram deslocadas por causa destes ataques, muitas vezes pela segunda ou terceira vez.
O facto de esta zona ser dirigida pelo HTS, que esteve anteriormente associado ao grupo extremista Al Qaeda, também é preocupante, diz o especialista Carsten Wieland. Desde que se separou oficialmente da Al Qaeda, o grupo tornou-se ligeiramente mais moderado. "Mas, como é óbvio, continuam preocupados em manter o controlo, especialmente sobre as mulheres, cujos direitos são explicitamente restringidos", acrescenta Wieland.
Qualquer pessoa em Idlib que discorde dos princípios básicos do domínio do HTS está em perigo, diz o especialista: "A resistência pode ser uma ameaça à vida."