Angola: Deputados doam salários para combate à Covid-19
13 de abril de 2020Em 2019, a Assembleia Nacional aprovou a fixação de um salário-base equivalente a 1.530 euros para os seus deputados, acrescido de vários subsídios. Numa altura em que Angola toma medidas extraordinárias para tentar travar a propagação do coronavírus, os deputados contribuem com parte deste ordenado.
Em declarações à DW África, Joaquim Nafoa, deputado da UNITA, maior partido da oposição, diz que metade dos salários dos 51 deputados foram doados para a compra de material de biossegurança e alimentação: "Já se doou metade dos salários há duas semanas. Esse dinheiro contribuiu para compra de material de biossegurança e produtos alimentares que o nosso partido, UNITA, está a doar aos cidadãos".
O MPLA, partido no poder, segue o mesmo caminho: vai doar 25% do salário dos seus dirigentes, entre deputados e titulares de cargos públicos. João Pinto, deputado dos "camaradas", fala em manifestação de solidariedade: "O MPLA acha que é um dever, na situação que o país está a viver de grande crise resultante da Covid-19, apoiar o Executivo em ter receitas".
"Tratando-se de uma situação extraordinária, a contribuição de dirigentes que exercem cargos nas funções políticas, no caso, o MPLA, é claramente um dever do militante de se solidarizar com o partido que governa, mas também é um dever cívico, patriótico e de solidariedade", sublinha.
Críticas e acusações
Alguns cidadãos acusam os dois partidos de propaganda e aproveitamento político em actos de doação de bens à famílias carecidas. "Quem está a fazer aproveitamento político é o MPLA", acusa Joaquim Nafoa.
"Foi o MPLA que veio com a história dos 25%. Nós quando fizemos a doação não publicitámos esse acto. Não há aproveitamento político nenhum por parte da UNITA. Aproveitamento político é de quem pretende fazê-lo agora, imitando a UNITA com os 25%".
Está o partido no poder aproveitar-se da situação que o país vive? João Pinto responde, socorrendo-se da história de Angola: "O MPLA tem uma tradição de solidariedade, assim como teve solidariedade com o ANC [Congresso Nacional Africano] quando todos fugiam e com a SWAPO, com o risco de sermos invadidos pela África do Sul".
Acusações à parte, as medidas de prevenção contra o coronavírus parecem estar a surtir os efeitos desejados em Angola. Até ao momento, não há contaminação comunitária e, dos casos importados, já se registam quatro recuperados e dois óbitos. Há mais de 78 horas que o país não regista novos casos de coronavírus.