"Nem sempre doce – cacau"
26 de novembro de 2010António Bonifácio tem hoje 55 anos, é santomense, de origem angolana, e, nos últimos anos da era colonial, servia à mesa na casa grande da Roça Rio do Ouro, hoje chamada Agostinho Neto. Até agora, 35 anos depois da independência das ilhas, António Bonifácio vive nas suas recordações de tempos que já lá vão, os tempos dos portugueses.
Está desempregado há anos, tantos que nem ele sabe ao certo quantos – ele e muitos antigos trabalhadores daquela que chegou a ser, diz-se, a maior roça de cacau do maior exportador de cacau do mundo: Rio do Ouro, em S. Tomé e Príncipe. Passa os dias sentado à porta de casa. Com ele, senta-se, muitas vezes, o seu vizinho, Antero António, que, em tempos, conduzira tractor na roça, e agora também desempregado.
Rio do Ouro pertenceu, em tempos, ao Marquês de Valle Flor. Mas o Marquês português era ainda o proprietário da roça Diogo Vaz, a poucos quilómetros de distância. Desde a independência, Rio do Ouro e Diogo Vaz seguiram rumos muito distintos.
Enquanto na Rio do Ouro, as pessoas parecem ter ficado eternamente sentadas a ver o tempo passar, à espera de novas instruções de um administrador que já lá não estava, os antigos colegas de Diogo Vaz deram um rumo ao seu destino.
Também em Diogo Vaz, a produção de cacau não é agora tão alta como chegou a ser. Mas além de se continuar a produzir, nesta roça também se compra cacau aos pequenos agricultores.
António João dos Santos é o responsável pela compra e pelo tratamento do cacau em Diogo Vaz. Aqui, todos lhe chamam Rocha. Chegou a S. Tomé e Príncipe em 1960. Tinha então 4 anos e veio com a mãe de Cabo Verde.
Um trabalho da autoria de Sérgio Nunes (Rádio Jubilar 91.9 FM) e de Marta Barroso (Deutsche Welle).