Violênca e opressão no Burundi
12 de maio de 2016Há um ano, no dia 13 de maio de 2015, militares tentaram derrubar o Presidente do Burundi Pierre Nkurunziza. A tentativa de golpe aconteceu algumas semanas após as eleições presidenciais, nas quais Nkurunziza venceu um controverso terceiro mandato. Desde essa altura aumentou a repressão política no país, acometido por ondas recorrentes de violência. A analista Yolande Bouka, do Instituto sul-africano de Estudos de Segurança, diz que uma das consequências mais significativas da tentativa de golpe de Estado e da repressão do Governo foi “a perda de uma imprensa independente no Burundi. As pessoas não têm mais acesso a notícias críticas ao Governo”.
O radicalismo com que as autoridades passaram a tratar os jornalistas e críticos ao regime levou muitos membros da oposição política a abandonarem o Burundi. É o caso de uma jornalista que prefere ficar no anonimato por motivos de segurança: “Aconteceu tudo muito depressa. Planeei a minha fuga do país numa noite apenas. Só avisei três familiares. Saí de casa apenas com uma pequena bolsa nas mãos, para não chamar atenção das domésticas que trabalham onde moro”.
A imprensa amordaçada
Antes de ir embora, a jornalista trabalhava para a Rádio independente Pública Africana, o primeiro meio de comunicação a dar voz aos militantes que queriam derrubar Nkurunziza. Após a emissão, desconhecidos puseram fogo às instalações da rádio que foram completamente destruídas. Foi o momento em que a jornalista decidiu fugir do país. Entretanto, mais de 250 000 pessoas abandonaram o Burundi por causa dos conflitos.
Desde que começou a crise, Nkurunziza recusou-se sempre a conceder qualquer espaço à oposição. 21 pessoas suspeitas de participar na tentativa de golpe de Estado foram julgadas e condenadas à prisão perpétua. O Governo também se nega a qualquer diálogo com membros da oposição que, de alguma forma, possam estar ligados à tentativa de golpe.
Um diálogo que não começa
Yolande Bouka vê tudo isto como falta de interesse por parte do Presidente e lembra que a Comunidade da África Oriental se tem dedicado, sem sucesso, a fomentar o diálogo entre as partes. O fato de Nkurunziza querer ele mesmo escolher os parceiros de diálogo, até agora impediu qualquer encontro com a oposição. Onésime Nduwimana, ex-porta-voz do Presidente que agora integra a oposição, não acredita que Nkurunziza queira realmente negociar e apaziguar os ânimos: “O Governo sabe muito bem que não tem nada para nos dizer. Não existe maior golpista que Nkurunziza”
A política realça que no chamado acordo de Arusha, que pôs termo à guerra civil, todos os participantes assinaram que um Presidente não pode assumir mais do que dois mandados seguidos. Ao se deixar eleger para um terceiro mandato, Nkurunziza tornou-se o maior golpista do país, reafirma Nduwimana. Mas Léonidas Hatungimana, outro antigo porta-voz de Nkurunziza, considera que o Presidente se encontra num beco sem saída e o conflito parece que não tem solução: „ Se Nkurunziza renunciar ao cargo, corre o risco de ir preso. O segundo problema é que ele já não tem mais poder absoluto sobre o grupo de políticos que reuniu em seu redor. São simultaneamente os seus amigos e inimigos.”