Detenções: FNLA diz que polícia angolana "agiu de má-fé"
26 de julho de 2022Trinta e três militantes da FNLA, incluindo quatro candidatos à Assembleia Nacional, estão presos, desde sábado (23.07), na sequência de detenções efetuadas pela polícia durante os incidentes que tiveram lugar em Luanda, no arranque da campanha para as eleições gerais de 24 de agosto.
O grupo de militantes cruzou-se com uma caravana de motoqueiros, que nesse dia foram responsáveis por atos de vandalismo na cidade. Após o comício de abertura do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), camisolas, bonés e bandeiras do partido no poder foram queimados por moto-taxistas, que reivindicavam a promessa de pagamento de 10 mil kwanzas (cerca de 22 euros) pela participação numa passeata a favor do MPLA.
Em entrevista à DW África, Joveth Sousa, membro do Comité Central da FNLA, diz que o partido não compreende o que terá motivado as detenções dos seus militantes, mas não tem dúvidas de que a polícia nacional "agiu de má-fé".
DW África: O que aconteceu no sábado?
Joveth Sousa (JS): Na verdade, nós vínhamos de uma atividade que realizámos na localidade do Calombo, em Viana, e no regresso às nossas instalações, aqui no bairro popular, deparámo-nos com um grande número de manifestantes motoqueiros que vinham da cidade, reclamando os seus direitos. Assim que eles viram a nossa caravana, atrelaram-se a nós e começaram a dar apoio à nossa atividade, porque vinham já descontentes da atividade do MPLA, que eles foram animar. E quando aparece a polícia, começaram a prender os motoqueiros todos. Por sinal, associaram-nos à atividade dos motoqueiros e levaram com eles 33 dos nossos jovens que estavam a fazer o seu trabalho de regresso às nossas instalações.
DW África: Mas, segundo explicou, tanto a caravana como os militantes estavam identificados com logótipos e trajes do partido FNLA, o que os diferenciava do grupo dos moto-taxistas em protesto. Considera, então, que essas detenções foram propositadas?
JS: Só podemos achar que foi mesmo isso, porque eles estavam bem identificados com as camisolas do partido. O próprio camião estava bem decorado com o símbolo do partido e com a cara do presidente. A polícia agiu de má-fé. Foi de má-fé a reação deles, que deploramos. Nós manifestámos o nosso descontentamento face a essa situação, logo no primeiro dia da abertura da campanha eleitoral. Esse tipo de comportamento e procedimento já começa a manchar o próprio processo.
DW África: Entre os detidos estão também quatro candidatos a deputados à Assembleia Nacional…
JS: Temos quatro jovens candidatos a deputado e a lei eleitoral diz que um indivíduo candidato a deputado não pode ser detido. É mesmo uma violação contra os nossos direitos e viola os princípios da lei eleitoral. Como podemos dar uma nota positiva a esse tipo de comportamento? Já começamos mal à partida.
DW África: Entretanto, continuam detidos. O que diz o comando provincial?
JS: Até anteontem estavam apenas num quintal, estavam só sob controlo da polícia, mas ontem foram transferidos para uma cela no comando provincial. A direção do partido, na pessoa do secretário-geral, no próprio sábado, fez alguns movimentos no sentido de compreender o que se está a passar, sem sucesso. Ninguém lhes deu ouvidos. No domingo, foi o próprio presidente que lá foi. Deram-lhe a garantia que a situação estava controlada e que soltariam os miúdos. Passaram o domingo todo lá. Ontem deram-nos essa garantia também - o próprio comandante da esquadra da unidade - e não foram soltos na segunda-feira. Hoje estamos aqui e estamos a aguardar.
O que se passa, afinal de contas? É preciso que alguém de direito se pronuncie, diga alguma coisa. Qual a orientação que têm contra nós? E pedimos que as autoridades angolanas, assim também como os responsáveis da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), expliquem essa situação, porque isso começa a manchar o processo logo à partida. Não é um bom presságio, é muito mau.