Angola: Famílias crescem sem controlo no Bié
11 de julho de 2020Teresa Chimbotia tem 28 anos e é mãe de seis filhos. Engravidou pela primeira vez quando tinha 15 anos de idade, o que a obrigou a abandonar a escola e dedicar-se aos filhos e ao marido.
Viúva e sem fonte de renda estável, Teresa Chimbotia sobrevive da venda ambulante na província angolana do Bié. "Fiz o meu primeiro filho aos 15 anos, porque os meus pais faleceram muito cedo e isso obrigou-me a arranjar marido na adolescência. Em 2015, o meu marido faleceu também", diz.
Isabel Amilcar, de 26 anos, é mãe de três filhos. A angolana conta que engravidou quando tinha 20 anos de idade, mas não deixou de estudar na altura. No entanto, com as dificuldades económicas e sociais e a chegada do primeiro filho, viu-se obrigada a arranjar um emprego e a abandonar os estudos. Isabel Amilcar esperava outro futuro.
"Quando fiz o primeiro filho, continuei a estudar, mas, mais tarde, tive dificuldades, porque o bebé ficava doente e precisava de medicamento, roupa, comida. Tive que abandonar os estudos, porque era muito difícil, e tive que me tornar uma mamá 'zungueira'. Isso deixa-me muito triste, porque teria sido enfermeira ou professora. Estraguei o meu pão", lamenta.
Essa é a realidade de muitas famílias angolanas no Bié. A taxa de fecundidade na província já foi apontada como uma das mais altas do país, com 8,6 filhos por mulher. Em comparação, na capital Luanda, a mesma taxa é de 4,5 filhos, segundo relatórios do Governo referentes a 2015 e 2016.
Superação
Mas nem todas as famílias vivem esta situação. Ana Aurélio tem 26 anos e conseguiu trilhar por outro caminho, apesar de todas as dificuldades que teve que enfrentar. Engravidou aos 20 anos e, sem o apoio familiar ou do parceiro, enfrentou tudo sozinha. Trabalhou em vários estabelecimentos, mas continuou a frequentar o último ano do curso médio de Agronomia para que não faltasse o mínimo ao seu filho.
Hoje funcionária pública colocada no Departamento Provincial do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Bié e estudante do 1º ano do curso superior de Agronomia, Ana Aurélio dá um conselho aos mais jovens.
"Quero dizer que, para não passarem onde eu passei, é preciso ter muita calma e muita cautela, porque os adolescentes e nós, jovens, não conseguimos nos controlar. E para os que estão nesta fase, quero desejar muita força, que não desistam e que, independentemente das coisas, a vida continua", sublinha.
Emancipação da mulher
Convidado a analisar a falta de planeamento familiar na província, o sociólogo Adilson Luassa defende a necessidade de se trabalhar na emancipação da mulher jovem.
O especialista aponta aspetos culturais, a pobreza e a falta de eficácia nas políticas de educação sexual como os principais fatores que estão na base do crescimento populacional desordenado.
"Alteramos este quadro, primeiro, ao emancipar a nossa mulher. Isso começa por trabalharmos a mentalidade da juventude, invertendo o quadro e o modo de pensar sobre o lar, os filhos e a sociedade de uma forma geral", diz.
"Outro aspeto é a educação sexual. Não podemos deixar os métodos anticoncecionais, bem como políticas que visam o alto nível de reprodução", acrescenta.
O Dia Mundial da População, criado pelas Nações Unidas, assinala-se anualmente a 11 de julho. O objetivo é alertar para questões como o planeamento familiar.