Direitos humanos na Etiópia sob constante ataque
18 de março de 2022Um vídeo de homens fardados a queimar um civil vivo na região ocidental da Etiópia provocou indignação generalizada nas redes sociais na última semana, renovando os receios de mais violência.
A Comissão Etíope de Direitos Humanos (EHRC), uma entidade nomeada pelo Parlamento, identificou os perpetradores como forças de segurança do Governo. Adis Abeba comprometeu-se a punir os culpados.
Um grupo armado não identificado também atacou um comboio civil e a sua escolta militar na região de Benishangul-Gumuz, no dia 2 de março, matando 53 pessoas.
Benishangul-Gumuz, onde vivem vários grupos étnicos, é uma região separada da guerra em curso no norte da Etiópia, onde os combatentes da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) lutam contra o Governo central desde 2020.
Os líderes separatistas de Tigray já acusaram Amhara de praticar atrocidades contra o seu povo que vive em Benishangul-Gumuz.
Acusações cruzadas
Mas também há acusações contra as forças de Tigray. Num relatório recente sobre a situação dos direitos humanos nas regiões de Amhara e Afar, a comissão etíope alegou que pelo menos 750 civis foram mortos em ataques ou em execuções extrajudiciais desde julho do ano passado.
Daniel Bekele, chefe da Comissão Etíope de Direitos Humanos (EHRC), diz que "pelo menos 400 civis foram mortos e muitos foram feridos pelas forças envolvidas na guerra. 309 civis sofreram ferimentos. Em particular, pelo menos 346 civis foram mortos, principalmente pelas forças de Tigray".
Bekele diz que as violações dos direitos humanos contra civis são muitas e diversas, como violações sistemáticas contra indivíduos e grupos, contra mulheres, crianças e idosos.
"O abuso sexual e a exploração sexual das mulheres, por exemplo, é uma utilização sistemática para as forças do Tigray alcançarem o seu objetivo de guerra", explica.
A TPLF, por sua vez, acusa a comissão de direitos humanos etíope de parcialidade, o que a comissão rejeita. Já o Governo nega que os seus alvos sejam civis.
As restrições impostas pelo Governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed também dificultaram a investigação de violações dos direitos humanos no local.
Ativistas perseguidos
Mas enquanto as acusações mútuas entre as partes em conflito prosseguem, ativistas dos direitos humanos temem pela sua segurança. Se promover os direitos humanos nunca foi fácil na Etiópia, a situação piorou com o conflito em curso.
Dan Yirga é o diretor executivo do Conselho Etíope de Direitos Humanos independente (EHRCO), uma organização que, nas últimas três décadas, tem acompanhado os abusos no país e afirma que "o atual conflito na Etiópia teve realmente um grande e significativo impacto nos direitos humanos".
O ativista explica que a situação criou um ambiente de medo para os defensores dos direitos humanos. "Por vezes, não podemos sair de Addis Abeba para investigar violações dos direitos humanos nas áreas de conflito, porque isso põe em perigo os nossos investigadores e defensores dos direitos humanos", diz.
Em reconhecimento do trabalho da organização, vai-lhe ser atribuído um prémio pela Amnistia Internacional. Yirga diz estar contente por ver o seu trabalho reconhecido. "Este prémio dos Direitos Humanos Internacionais vai motivar a nossa moral, vai encorajar-nos a fzer mais pelos direitos humanos, pela democracia e pela justiça", disse Yirga.
"Precisamos de muito apoio da comunidade internacional. Mas também deviam defender a melhoria dos direitos humanos na Etiópia", termina.